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Pode-se verificar paralelos da palavra "negro" em todos os idiomas de origem Latina que eu tenho conhecimento, negro (em espanhol), nero (em italiano), noir (em Francês), negre (em catalão), negru (em romeno), e por aí vai.

Entretanto temos também a palavra "preto" para definir a mesma cor, e esta não possui paralelo em nenhuma das nossas línguas irmãs. Minha pergunta então é, de onde vem a palavra "preto"? Porque, aparentemente, somos a única língua latina que desenvolveu 2 palavras para definir essa mesma cor?

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  • Me desculpa pessoal mas ninguém vai dizer: Visto saia negra para trabalhar. né? Os usos são diferentes para essas duas palavras. O francés não tem essa palavra. charbon em francês é cinza em português, Schilive
    – Lambie
    Commented Apr 29, 2022 at 16:00
  • @Lambie em Portugal a expressão que deste como exemplo poderia ser dita.
    – bad_coder
    Commented Apr 29, 2022 at 17:56
  • @bad_coder Acabo de procurar "vestir calça preta" e "vestir calça negra" em site:.pt O que deu na sua opinião? :)
    – Lambie
    Commented Apr 29, 2022 at 20:26
  • @Lambie entre outros resultados deu este na RTP também deu este no JN, etc... Também há um fado muito conhecido chamado Capas negras
    – bad_coder
    Commented Apr 29, 2022 at 20:31
  • Eu concordo que negro e preto tendem a ter usos diferentes: preto é corriqueiro e neutro (pode-se dizer vesti uma saia negra para ir trabalhar, mas o normal é dizer-se vesti uma saia preta...) enquanto negro tende a ter um uso mais poético e afetivo ("teu cabelos [...] negros como a noite que não tem luar") ou metafórico (fazer a vida negra a alguém). Mas isto não tira mérito à pergunta.
    – Jacinto
    Commented Apr 30, 2022 at 11:18

1 Answer 1

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Negro e os cognatos noutras línguas (noir, nero, etc.) vêm do latim niger (nigrum no acusativo, que é a fonte do português e castelhano), que já significava ’preto, escuro’ e, figuradamente, ’funesto, mau’ (ver Etymoline e CNTRL).

Quanto a preto, não era necessário que houvesse cognatos noutras línguas, mas até há prieto no castelhano; só que significa ’muito escuro ou quase preto’, não exatamente ’preto’.

A origem de preto não está isenta de controvérsia. O dicionário Houaiss (Lisboa, 2002) diz que é um derivado regressivo de apretar, que é a forma original de apertar (daqui vem também perto, que no português medieval era preto; a forma perto está atestada só a partir do século XVI). Juan Corominas e José Pascual (Diccionario Crítico Etimológico Castellano e Hispánico, 1984) dizem o mesmo do português preto e do castelhano prieto. Portanto o sentido original de preto/prieto seria ’apertado’. Aliás, o castelhano prieto continua a significar ’justo, apertado’ e ’duro ou denso’. Segundo o Houaiss e Corominas e Pascual, o sentido ’cor escura’ de preto viria de ’apertado’ no sentido ’denso, espesso’. Corominas e Pascual (tomo I, p. 302-3 explicam melhor (tradução minha):

Prieto ’apertado’ […] É notável a aceção ’de cor escura’, ’negro’, que tomaram o castelhano antigo prieto⁷ e o português preto: procede da ideia de ’denso, espesso’ (sentido que [o castelhano] apretado tem em muitas passagens […]), que falando de névoa, poeira e análogos, equivale a ’escuro’

Agora, donde é que vem apretar é que já não há acordo. O Houaiss no verbete preto diz que vem da forma latina não atestada *prettus, que seria variante de pressus, que é particípio passado de premĕre; mas no verbete apert- diz que vem do latim tardio appectorāre, significando ’comprimir contra o peito’, derivado de pectus, ’peito’.

Ora premĕre significava ’premer, carregar’, e pressus, falando-se de cores, já significava ’deprimida, escura’ (Wikitionary e Lewis and Short). Podemos então perguntar porque é que preto não vem diretamente de *prettus, em vez de via apretar. Na verdade, o Aulete e o Michaelis dispensam o apretar e simplesmente dizem que preto vem do latim *prettus (mas não dizem que vem diretamente).

Corominas e Pascual rejeitam a origem em pressus. Dizem que a forma *prettus não é conhecida (o asterisco indica precisamente que a forma é conjetural) e que os únicos dois casos que eles conhecem de alternância entre -ss- e -t- no latim “são muito diferentes e têm explicações que não se poderiam aplicar a este *PRETTUS.”

A origem que eles defendem é: appectorāre → apetrar → apretar (em castelhano continua apretar). Eles notam que também do latim pectus pelas mesmas transformações vêm o castelhano pretil (’peitoril’) e pretal, pelos visto agora mais comumente petral (’correia que passa no peito do cavalo’, peitoral).

Corominas e Pascual discutem e rejeitam ainda outras hipóteses, que também a mim me parecem muito especulativas. Podem ler o verbete completo (página e meia!) no link.

Antenor Nascentes (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 1955, p. 415) apresenta ainda outras hipóteses. Diz que houve quem sugerisse origem no grego pyraithés, ’ardente, queimado pelo fogo’, e que o filólogo João Ribeiro propôs origem no latim pletu, ’cheio’, por uma associação em que “branco passou a designar vazio (em branco) e preto designava cheio”. Contra esta hipótese foi observado que pletu nunca daria prieto em castelhano, e que o latim plere (donde derivaria pletu) não é conhecido por si só; apenas com elemento compositivo de outros verbos, como implere, que nos deu encher, complere, que nos deu cumprir, etc.

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