Como todo estudante de português, uma das primeiras coisas que me ensinaram foi que ir embora significa o que em espanhol se diz irse. Desde então eu tenho ouvido mais de uma vez ir-se embora em contextos informais. Será que ir-se embora é também correto, ou pelo menos aceitável? Ou pelo contrário, é malsoante? Existe essa forma em todos os dialetos?
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"Vou-me embora" ou é um uso em que a pessoa se exige autocorreção o tempo todo para poder falar erudito; ou é alguém fazendo graça, querendo falar diferente.– André LyraCommented Jan 12, 2017 at 17:07
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Sim, é totalmente correto e aceitável. No Brasil, está em desuso, tendendo aos casos que o @AndréLyra citou. Em Portugal, já não sei.– bfavarettoCommented Jan 12, 2017 at 19:17
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Em Portugal apenas se "vou-me embora", qualquer outra forma será imediatamente notada.– JonasCommented Jan 13, 2017 at 0:47
1 Answer
Ir embora e ir-se embora são igualmente corretos. Na minha experiência de falante nativo de Portugal, nenhum deles é mais formal ou coloquial que o outro; nem mais bem-sonante que o outro com uma ou duas exceções. Tu foste embora rola muito melhor que tu foste-te embora ― aquele te-te é chatinho de articular e não soa particularmente bem. Na prática, na fala relaxada em Portugal aquilo é simplesmente pronunciado como um duplo t, fostt’ embora, que mal se distingue de fost’ embora. Nós fomo-nos embora soa bem, mas dá mais trabalho a articular que nós fomos embora. Já nas outras pessoas, o clítico articula-se muito bem. Eu vou-me embora, ele vai-se embora, eles foram-se embora, etc. rola muito bem: na fala o me e o se enfiam-se ali muito bem entre o verbo e embora. No caso da próclise (clítico ante do verbo; e.g. não me vou embora), a articulação é fácil e bem-sonante em todos os casos.
Com estas ideias eu fui ao Google ver se as frequências das várias frases confirmava a minha intuição: que o pessoal tenderia a evitar foste-te embora, vamo-nos embora, e fomo-nos embora. Confirma mais ou menos. Já que tive o trabalho de coligir aqueles números todos, ponho-os aqui para quem tiver curiosidade.
Alguns padrões que se observam. De uma maneira geral os portugueses são mais adeptos do clítico que os brasileiros. A exceção é no eu vou-me e eu me vou: estas formas são muito usadas quer por brasileiros quer por portugueses; é onde o clítico é mais usado. Depois aquilo que me levou a ir ver estes números. Realmente tu foste-te embora é pouco frequente; nomeadamente, em Portugal, muito menos que tu te foste embora ou tu vais-te embora, o que sugere que de facto aquele te-te afugenta o pessoal.
Com nós, o caso é mais complicado. O clítico é pouquíssimo usado, mas tanto o é após o verbo (onde dá trabalho) como antes do verbo (o que eu não estava à espera). Além disso com a locução pronominal a gente, semanticamente equivalente a nós, o clítico também é pouquíssimo usado, e aí a facilidade de articulação é a mesma que com ele (é vai-se em ambos os casos). Isto leva-me a crer que a razão do baixo uso do clítico com nós terá que ver com outras razões. Omitindo o nós, a frequência do uso do clítico antes do verbo aumenta em Portugal. Por exemplo quando nos fomos embora está a 66% de quando fomos embora (não está na tabela).
Resultados da busca no Google
Portugal Brasil
Sem % de “sem clítico” Sem % de “sem clítico”
clítico ênclise próclise clítico ênclise próclise
Eu vou embora 136 110% 24% 142 163% 41%
Tu vais embora 32 97% 84% 105 19% 18%
Ele vai embora 129 64% 62% 285 40% 16%
A gente vai embora 20 30% 5% 260 2% 0%
Nós vamos embora 120 20% 13% 261 5% 1%
Eles vão embora 102 74% 51% 324 6% 11%
Eu fui embora 87 71% 51% 255 35% 7%
Tu foste embora 50 42% 74% 89 22% 22%
Ele foi embora 159 74% 52% 129 65% 23%
A gente foi embora 7 14% 0% 185 3% 0%
Nós fomos embora 81 10% 6% 217 1% 9%
Eles foram embora 99 77% 47% 306 14% 6%
Chave: Por exemplo, na primeira linha de Portugal, há 136 ocorrências sem clítico (“eu vou
embora”); com clítico há 150 (110% de 136) ocorrências de ênclise (“eu vou-me embora”) e
32 (24% de 136) de próclise (“eu me vou embora”).