Encontrei 4 questões dentro da sua pergunta e as respondi separadamente. Espero ter entendido corretamente.
1. Isto é mesmo assim?
2. Ou estes autores serão enviesados ou terão tido experiências muito particulares?
3. Se o num e numa já foi aceite em qualquer registo, quando, como, e com que base surgiu esta ideia que num e numa não são apenas informais?
4. E há quem use em um, em uma na fala?
1. Sim, isto é mesmo assim! Conseguimos ver num livro publicado em 1856 que esses pronomes eram normalmente utilizados não só pelo consagrado Machado de Assis, mas também por Casimiro de Abreu em Camões e o Jau.
“ANTÔNIO
Os Lusíadas nunca!
Por quem sois, suspendei! sou que o peço:
Que não se queima assim num só momento
Dum poeta imortal a rica c’roa,
E o mais nobre brasão dum povo inteiro.
Oh!vou salvá-los. (Corre para Camões)”
Também se observa o uso das combinações entre a preposição ‘de’ + artigo indefinido ‘um’, gerando o ‘dum’.
2. Alguns autores tem em suas convicções que se deve analisar o contexto considerando-o formal ou informal antes de utilizar ‘num(a)’ ou ‘em um(a)’.
É o caso que Reginaldo Passadori comenta nesta matéria da revista EXAME:
“(B) Ao participar dos cursos de Comunicação Verbal, certamente estará num ambiente próprio para suas necessidades da fala.
Ao participar dos cursos de Comunicação Verbal, certamente estará em um ambiente próprio para suas necessidades da fala.”
“Percebeu o contexto? Há um tom de informalidade e familiaridade nas mensagens, que poderia ter uma característica mais elaborada por parte do emissor, mas as combinações conferiram esta orientação.”
“Agora o uso de uma forma ou de outra só depende da sua escolha para se expressar no ambiente que você se está inserido, por isso, é importante esta avaliação.”
3. Marcos Bagno acredita que essas mudanças foram engendradas principalmente por recomendações equivocadas vindas dos docentes de Português, que ele caracteriza como preconceito linguístico:
“Algumas práticas pedagógicas empedernidas são mais resistentes que velhos hábitos e preconceitos sociais. No caso do ensino de português nas nossas escolas, fico espantadíssimo ao descobrir que muitos docentes continuam fazendo recomendações completamente equivocadas a seus alunos no que diz respeito à produção textual. Essas recomendações acabam se fossilizando no inconsciente dos estudantes e se transformando em hábitos petrificados, difíceis de abandonar.
Uma dessas recomendações sem fundamento é a de que não se deve escrever num, numa, nuns, numas e sim “em um”, “em uma”, etc., como se essas contrações, que existem na língua há mais de mil anos, representassem algum erro dos mais cabeludos. Pois não representam: basta abrir qualquer bom escritor, do século XVI até os dias de hoje, para comprovar que essas contrações são perfeitamente naturais, bonitas e elegantes. E sempre me pergunto: por que só proíbem o num e não as outras contrações com a preposição em? Por que também não se ensina a escrever coisas como “em o”, “em a”, “em esse”, “em aquele”? Por que só o pobre do num e sua família sofrem tamanha perseguição? Liberdade para o num!”
Caetano também toca no mesmo ponto:
“Me lembro (e aqui vai uma homenagem irônica, tanto aos linguistas quanto aos defensores da gramática da norma culta) de ter exposto minha estranheza em relação ao abandono do “num” e do “numa” (e, consequentemente, é claro, do “nuns” e do “numas”) no blog “obraemprogresso” e ter recebido resposta sóbria de Heloisa Chaves, a mais atenta às questões da língua entre os comentadores, confessando que de fato sempre dizia “num” mas escrevia “em um”. Aprendera na escola.”
Essa ideia pode ter surgido equivocadamente. As combinações que resultam no ‘num’ e ‘numa’ e todas as outras entre preposições (a, de, em, por) e artigos indefinidos (um, uns, uma, umas), estão corretas como mostram várias gramáticas da Língua Portuguesa, que comumente não referenciam essa discussão entre formais e informais.
Consultei algumas gramáticas: Moderna Gramática Portuguesa – Evanildo Bechara
Português Esquematizado – Agnaldo Martino
A Gramática Para Concursos Públicos – Fernando Pestana
4. Caetano observa a transcrição da fala de Alexandre Frota em sua biografia:
“Mesmo na biografia de Alexandre Frota, em que o português é tratado com demasiada licença, repete-se, até nas transcrições de falas do biografado, a suposta fineza de grafar a preposição separada do artigo.
Imagino o Alexandre Frota contando que, “em uma noite”, botou pra “fuder”. Pode ser que, influenciados pela escrita, alguns já falem assim e eu, com o ouvido viciado, não ouça.”
Agora, observe a transcrição da conversa entre o ex-Presidente do Senado Federal , Renan Calheiros e o ex-senador, Sérgio Machado, feita pela Folha de São Paulo:
“MACHADO - Renan, só se fosse imbecil. Como é que tu vai sentar numa mesa para negociar e diz que está ameaçado de preso, pô? Só quem não te conhece. É um imbecil.”
(...)
“RENAN - Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra...”
Frota tentou ser um pouco mais elegante na fala quando optou pela separação entre a preposição e o artigo, que ficou parecendo bruscamente forçado. Já Renan e Machado não quiseram ser finos enquanto eram gravados sem perceberem, era uma conversa normal. Nesse ponto que surge o preconceito linguístico, tratado por Marcos Bagno como perseguição ao coitado do num, um dos principais influenciadores na fala e na escrita de todos. Mesmo assim conclui-se que é difícil identificar quem realmente use com espontaneidade a separação entre a preposição e o artigo, num, nuns, numa e numas soam naturalmente na fala.