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O português há alguns anos (centenas ?) já teve o plural de siglas ou abreviações similar ao espanhol, dobrando letras na abreviação, exemplo Estados Unidos: EEUU (ou EE.UU.)

Seria um erro ou uma afronta às regras ortográficas atuais abreviar palavras com essa regra ? Ou só é permitido as abreviações atuais documentadas? E quais as condições para a reprodução de textos antigos ?

MAIS INFORMAÇÕES E EXEMPLOS:

Há também organizações ou sociedades, como a Maçonaria, que mesmo em Português, utilizam desta regra dobrando as letras quando é um plural abreviado, e profissionais que convivem com textos antigos lidam também com abreviações nesta forma, muitas vezes preservando o original replicando a forma de como eram escritas - profissionais da área de direito com mais frequência.

De uma foma ou de outra há resquícios dessa prática (ou regra). Há textos na internet documentando a abreviação do plural de algumas palavras onde se dobram as letras, exemplo:

  • Vossas Majestades: VV.MM.
  • Autores: AA.

  • Vossas Altezas: VV.AA.

Há regras também para o plural de letras, como exemplo as vogais no plural teriam um s ao final ou são dobradas ?

  • Múltiplos as: Múltiplos aa
  • Múltiplos is: Múltiplos ii.
  • etc

Algumas fontes:

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  • 1
    Eu via em vários textos EEUU e não entendia o porquê!
    – Peixoto
    Commented May 26, 2017 at 17:38
  • Para os plurais das letras vê esta pergunta : podes dobrar a letra ou acrescentar s ao nome da letra.
    – Jacinto
    Commented May 26, 2017 at 19:06
  • @Peixoto Você pode compartilhar esses textos ? Já vi alguns casos que parecem misturar Espanhol com Português, pode ser uma tradução do Espanhol pro Português sem alguns cuidados.
    – Luciano
    Commented May 26, 2017 at 19:44
  • 2
    Luciano, DD é digníssimo, e MM (Priberam) é meritíssimo; são singulares, não são plurais, como indica o crescabrasil linkado na pergunta.
    – Jacinto
    Commented May 28, 2017 at 15:01
  • 1
    @jacinto Tinha visto isso, mas jurava que tinha encontrado divergências com outra fonte. Bem se eu achá-la adiciono às referências, por ora os removi dos exemplos.
    – Luciano
    Commented May 28, 2017 at 15:37

1 Answer 1

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A pluralização de abreviações por duplicação das letras é aconselhável apenas nos casos já consagrados, como VV.MM. ‘Vossas Majestades’, SS.MM. Suas Majestades, VV.AA. ‘Vossas Altezas’, etc. O que muitos gramáticos recomendam e o uso vem consagrando é a formação do plural pela adição de um s minúsculo: uma ONG, duas ONGs (‘organização não governamental’). Por exemplo, este artigo no Gramaticalhas cita quatro gramáticos que aprovam a formação do plural de siglas com s. É essa também a recomendação no Manual de Redação da Folha de São Paulo e no Manual de Comunicação do Senado Federal do Brasil). A única posição discordante que encontrei (Ciberdúvidas e Dúvida Linguística no FliP) recomenda manter a sigla invariável: uma ONG, duas ONG.

Agora, tudo isto são apenas recomendações. Como diz Cláudio Moreno (“Plural das Siglas”,Sua Língua), que também aprova o plural com s, “não há um deus da gramática”, e o Acordo Ortográfico em vigor nada diz sobre o assunto. Por isso não podemos dizer que o plural por duplicação de letras fora dos poucos casos consagrados seja um erro ou uma afronta às regras ortográficas atuais; mas vai com certeza contra a prática corrente. E cada um dirá qual das seguintes formas melhor favorece a comunicação (“notícia” inventada):

Várias OO.NN.GG. pediram à C.P.L.P. (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) que melhorasse o seu site. Mas parece haver duas CC.PP.LL.PP, uma interessado em progredir, outra em protelar.

Várias ONGs pediram à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) que melhorasse o seu site. Mas parece haver duas CPLPs, uma interessado em progredir, outra em protelar.

Várias ONG pediram à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) que melhorasse o seu site. Mas parece haver duas CPLP, uma interessada em progredir, outra em protelar.

Eu prefiro a versão com s, que é aliás a que vem ganhando consenso. A versão com letras dobradas deixaria muitos leitores a coçar a cabeça.

Um argumento a favor do s é que nós tendemos a tratar as siglas, mesmo aquelas pronunciadas por soletração (como CD, que é lido como cê-dê, ao contrário de ONU), como uma palavra, e é por isso natural acrescentar um s, para formar o plural, lendo-se um cê-dê, dois cê-dês (ver artigo do Cláudio Moreno). Isto é válido, naturalmente, apenas para siglas que designam entidades singulares que podem ser pluralizadas: uma ONG, duas ONGs. Algumas siglas já são gramaticalmente plurais, como os EUA, não havendo necessidade de indicar o número plural com s ou dobragem de letras. Encontrei de facto alguns exemplos de EE.UU. em textos do século XIX, mas não vejo nessa sigla qualquer mérito. Mas eu diria, “existem dois EUAs [e-u-ás], um urbano, outro rural”.

Quanto à citação de textos antigos, é perfeitamente legítimo reproduzi-los fielmente, juntando notas explicativas se necessário. É aliás boa prática em qualquer texto indicar por extenso o significado da sigla, exceto as sobejamente conhecidas, na primeira vez que ela aparece no texto. Depois, em domínios específicos pode haver normas ou tradições próprias. O plural das siglas não está regulamentado; a explosão de siglas é uma coisa relativamente recente na história da língua, e o consenso está ainda em formação. Portanto é uma questão de bom-senso e ver o que favorece a comunicação.

Onde há consenso é que não se usa apóstrofo: ONGs, tudo bem, mas não *ONG’s. Este uso do apóstrofo é provavelmente influência do inglês, mas mesmo aí ele é desaconselhado salvo raras exceções (ELU.SE). No passado indicava-se a parte de cada palavra numa sigla com um ponto (E.U.A., O.N.U), mas a tendência atual é para evitar esse “entulho gráfico” (Veja, manuais da Folha e do Senado). No entanto, os pontos são usados nos plurais com letras dobradas. Por razões históricas—esses plurais são heranças do passado—e ajudam-nos a saber que cada duas letras representa uma só palavra, por exemplo: SS.MM. é ‘Suas Majestades’ e não, por exemplo, ‘sem sal é muito melhor’.

O plural das letras pode formar-se por duplicação ou acrescentando um s ao nome da letra: aa ou ás, bb ou bês, ff ou efes, hh ou agás, etc., como explicado na resposta a esta pergunta. Isto é no entanto uma questão diferente: por exemplo, vv referem várias letras v, como em, “há três vv em vavavá”; em VV.MM os dois vv referem a palavra vossas, não referem letras.

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  • Só um adendo: no Brasil (não sei se em todas as regiões) a pronúncia de ONG é ôngui, e o respectivo plural é ônguis. Mas pelo jeito não há uma regra geral para a pronúncia de siglas. A Agência Nacional de Saúde (ANS), que poderia ser pronunciada exatamente como âns, acaba sendo soletrada (a-ene-esse). Já a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que deveria ser soletrada, acaba sendo transformada em palavra (fefeléchi).
    – user1798
    Commented May 28, 2017 at 17:24
  • @Hugo, não sabia disso. Vou incluir o exemplo da ANS então. O argumento para a adição do s é válido de qualquer modo.
    – Jacinto
    Commented May 28, 2017 at 21:09
  • Agora surgiu uma dúvida: se a sigla termina em S, como ficaria o plural? Com um s minúsculo depois do S?
    – user1798
    Commented May 28, 2017 at 21:12
  • 2
    @Hugo, Sim, as SSs (lol, esse-esses) dos países envelhecidos correm risco de falência. Bem imagino que CD seja cê-dê em todo o lado.
    – Jacinto
    Commented May 28, 2017 at 21:14
  • 1
    @Hugo: Não tenho dados estatísticos, apenas conversando e conhecendo culturas, notei que no nordeste do Brasil, em especial na Bahia, há tendência a pronunciar siglas como palavras inteiras, o caso da Fefeleche (FFLCH), seria um exemplo - apenas um exemplo.
    – Luciano
    Commented May 29, 2017 at 17:40

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