Portugais é até uma palavra relativamente comum; e Brasis também. E aos meus ouvidos a frase soa-me perfeitamente idiomática. Eu já disse várias vezes esse tipo de frase, que o Brasil faz cem ou noventa e cinco Portugais, conforme me saem as contas. Mas alguém num seminário do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil apurou o número exato (ênfase minha em todas as citações):
O Brasil equivale a 92 vezes Portugal. Imagina 92 Portugais juntinhos—esse é o Brasil.
Outras comparações esse tipo :
“[...] onde cabem, por exemplo, 90 ilhas de São Tomé e Príncipe em território europeu de Portugal, 14 Portugais em Angola, e quase sete Angolas no Brasil”. (Jornal da USP, 2004.)
Em 2016, 7.989 km2 de floresta viraram cinza na Amazônia, causando emissão de carbono equivalente a dois Portugais;
(Observatório do Clima, 2016.)
Mais frequentes são entanto as referências figuradas a diferentes Portugais, um rural, outro urbano, um jovem, outro idoso; e coisas assim. E encontramos isto em publicações prestigiadas e nos melhores escritores. Exemplos:
Dois Portugais antagônicos coexistiram por algum tempo, baralhando-se e confundindo-se na fervura das guerras e revoluções, antes de vencer o Portugal burguês e comercial.
(Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala, 1946.)
Eu, português conheço pelo menos dois Portugais: um dos portugueses, e outro das portuguesadas.
(Almada Negreiros, Obras Completas, 1993.)
Portanto temos aqui três gerações que representam três ‘Portugais’ distintos.
(Henrique Raposo, “Três ‘Portugais’ ”, Expresso, 2009.)
Certamente, não há apenas o Portugal grande de Camões e de Pessoa: há muitos Portugais (o de Camilo, o de Eça, o de Oliveira Martins), tantos quantas vivências há na nação criadora.
(Jorge Chichorro Rodrigues, Ser Português, 1999.)
Os sociólogos dizem que existem dois Brasis e dois Portugais
(O Novo Conto Brasileiro, 1985.)