Vivo na região norte do BRASIL há 15 anos, especificamente no município de Santarém/PARÁ onde é notória a influência portuguesa na cultura e no linguajar...Para se ter uma idéia desta influência é bom lembrar que o PARÁ reconheceu a Independência do Brasil apenas em 15 de agosto de 1823, dia que os paraenses denominaram de 'O DIA DA ADESÃO". Alguns municípios da região de Santarém, no Oeste do Pará, prestam verdadeiras homenagens a Portugal ao adotarem nomes idênticos aos de cidades e vilas existentes naquele país ibérico: Óbidos, Alenquer, Almeirim, Alter do Chão, chamados de municípios irmãos, só para citar alguns. É natural que essa influência traga reflexos fortíssimos no vocabulário e no sotaque do PARAENSE, que sibila bastante na hora de pronunciar a letra "S" (tem som de SHHH). Aquí no norte do Brasil se utiliza muito, e de forma correta, a segunda pessoa, na hora de conjugar verbos. "Tú vais, tu vistes, tú queres, tú fostes" são expressões frequentes por aquí. "CRUZETA" é a forma corriqueira de nomear o utensílio para se pendurar roupas aquí no PARÁ. Absolutamente não está errado e não é um neologismo, mas sim um arcaísmo, de tão antiga que é essa palavra. Todo mundo sabe o que é, e poucos PARAENSES chamam esse objeto de cabide, termo de origem árabe, bem mais recente, e que significa "GANCHO". Descobrí que a palavra "CRUZETA", antiquíssima, é de origem latina, e mesmo em PORTUGAL está caindo em desuso, restrita ao português mais castiço, ainda cultivado na região norte do país. Em Lisboa os mais jovens já não sabem do que se trata. Outro exemplo dessa influência está numa fruta deliciosa que se consome por aquí, com o nome de "GINJA". Ouví pela primeira vez em SANTARÉM (PARÁ)a palavra "GINJA", para denominar as pitangas que conhecemos no sul e sudeste do país.Muitos anos depois me reencontrei com esta palavra numa visita a LISBOA, para designar um delicioso licor de cerejas. Daí entendí o aportuguesamento das nossas pitangas, fruta tão próxima das cerejas portuguesas, em formato, côr e sabor. Acho fantástico encontrar no estado do PARÁ um reduto do bom e castiço português, e que ele possa sobreviver ao bombardeio de uma cultura globalizante, que há bem pouco tempo aportou por aquí.Tomara que os paraenses continuem porta-vozes de um DNA cultural bonito e necessário ao conhecimento de nossas próprias origens.