Esse me parece um caso de zeugma: omissão de um termo para evitar repetição, omissão essa que é quase sempre marcada pela vírgula. Na frase em questão, "consegue" é omitido.
Um exemplo popular da zeugma é a letra de Chico Buarque:
O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano
em que o verbo "ser" é reiteradamente omitido, após estar presente na primeira frase.
Penso que a frase
Por que a Argentina consegue e o Brasil, não?
não usa a construção mais canônica de zeugma, mas pode ser considerada correta como está, até por se tratar de uma chamada que, como títulos e manchetes, tem estilo próprio, mas também porque as regras em relação ao zeugma parecem terem evoluído rapidamente no sentido de menor rigidez.
Por exemplo, ao final do último milênio Pasquale defendia a obrigatoriedade do ponto e vírgula ou do ponto final separando as orações:
Um aspecto sobre o qual não há discordância e que merece ser citado é o do ponto-e-vírgula que separa as orações, considerado obrigatório quando se emprega a vírgula que marca a elipse do verbo: "Sou gremista; eles, colorados"; "Nós preferimos cinema; eles, teatro". No lugar do ponto-e-vírgula, também se pode usar o ponto final: "Eu trabalho com fatos. Você, com hipóteses".
E, embora essa continue sendo a construção preponderante, não é exclusiva. Por exemplo, a Wikipédia contém um exemplo com vírgula:
Ela anda de bicicleta, ele de moto.
e Érico Veríssimo opta pela conjunção "e" apenas:
“A vida é um grande jogo e o destino, um parceiro temível.”
E há também até mesmo exemplos em que a vírgula que marca a zeugma é omitida — como o da Wikipédia, acima, e também (1, 2):
Eu comi musse de manga; ele de chocolate.
Diante dela, estavam os pais e os irmãos. E também os tios e os avós.
Embora me pareça preferível manter esta vírgula, talvez com exceção do último exemplo acima, em que a segunda oração parece apenas continuar a listagem com que a primeira termina.
Assim, voltando à frase da pergunta original, provavelmente uma construção mais canônica seria: "Por que a Argentina consegue; e o Brasil, não?" mas a opção por não usar o ponto e vírgula se justifica, não apenas por ser uma chamada (naturalmente mais simples), mas também porque o cerne da pergunta é "por que não o Brasil?", enquanto a separação por vírgula poderia sugerir duas perguntas (esta e também "por que a Argentina?").
Vale observar, sobre a definição de zeugma: algumas fontes, especialmente mais recentes, consideram a zeugma um caso particular de "elipse" (omissão), enquanto outras, mais antigas, consideram que a zeugma é distinta da elipse, pois a omissão seria parcial, já que apenas evita a repetição de um termo presente.