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Qual é o correto ou, se ambos estão corretos, qual soa mais correto: "nós é quem agradecemos" ou "nós é que agradecemos"?

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  • O mais correto parece-me "nós é que agradecemos", sou de Portugal.
    – Jorge B.
    Commented May 25, 2016 at 8:05
  • Nós é quem agradece. Commented May 25, 2016 at 16:34
  • @AndréLyra Nós somos quem agradece. Mas nós é que agradecemos é correto e mais natural se o objetivo for realçar que somos nós e não outros quem deve agradecer.
    – Jacinto
    Commented May 28, 2016 at 16:56
  • 'Nós é quem agradecemos' é incorreto pois 'quem' pede o verbo no singular independentemente da pessoa a quem 'quem' se refere. Commented Jun 1, 2016 at 17:50

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A questão aqui não é concordância verbal (ver esta pergunta sobre concordância verbal em frases vagamente parecidas), mas sim legitimação pelo uso; e embora haja quem use nós é quem agradecemos, a formulação clássica, a que se encontra na literatura e dicionários, é:

Nós é que agradecemos.

Esta frase é composta de uma só oração, com sujeito nós e verbo agradecemos (a frase básica é nós agradecemos); é que é uma locução inserida na frase para realçar que somos nós e não outros quem agradece. A locução é que vem explicada no Aulete:

É que 1 Us[ado] para dar ênfase, junto a uma parte da frase (um nome, uma expressão, etc.) para a qual se quer chamar a atenção (p.ex., para contrastar ou distinguir algo ou alguém em relação a outros).: Ela ajudou muito; ele é que atrapalhou.: Isso é que não está certo!

A locução é quem não aparece no dicionário (ver quem no Aulete) e é rara na literatura: 58 nós é que agradecemos contra 1 nós é quem agradecemos no Google Books. Fui ver neste Corpus do Português, onde dá para pesquisar de uma só vez nós é que/quem seguido de qualquer verbo, e encontrei os seguintes números entre autores dos séculos XIX e XX e imprensa dos anos noventa:

                             Eu   Tu    Ele/ela   Você   nós    eles/elas
é que [qualquer verbo]      192   57      116      25     36       42
é quem [qualquer verbo]       1    0       18*      6*     0        1
    * Construção diferente

Os raros exemplos de «eu é quem» e «eles é quem» são de entrevistas na imprensa. «Ele/ela/você é quem», que já encontramos em maior abundância, são uma construção diferente. Aqui não temos uma locução é quem inserida numa só oração. Temos antes duas orações: [ele é] + [quem + verbo]. É análoga a eu sou quem agradece ou nós somos quem agradece, onde ele concorda com é, eu com sou e nós com somos.

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A correta é a segunda:

(1) Nós é que agradecemos.

Esta construção chama-se pseudoclivada invertida de é que (Gramática do Português, Maria Mateus e outras, 6.ª ed., Caminho, 2003, pág. 690). A expressão é que é reinterpretada como fixa; não admite interrupção ou marcas de tempo e concordância do verbo ser (idem, pág. 691).

A primeira tem problemas de concordância. A cópula ser tem de concordar com nós e agradecer tem de concordar com quem (que leva geralmente o verbo para a 3.ª do singular, embora se admitam por vezes exceções):

(2) Nós somos quem agradece.

Neste caso temos um predicado identificacional, onde o verbo ser estabelece uma relação de identidade entre os dois argumentos (nós e quem agradece). Parece-me difícil ler esta frase como uma clivada, onde o foco é nós e não a oração quem agradece (sobre esta ambiguidade, ver esta dissertação de Mariana Resenes, pág. 54). Por outro lado, a leitura de clivada é facilmente apercebida nestas outras frases:

(3) Somos nós quem agradece.
(4) Somos nós que agradecemos.

Que não pode ser usado na frase (2) em lugar de quem; para usar que seria preciso que o pronome relativo tivesse um antecedente explícito:

(5) Nós somos as pessoas que agradecem.

As frases (1) e (3-4) (mas não (2)) têm um foco contrastivo (põem em foco nós em oposição a outra pessoa ou grupo de pessoas):

— Agradeço muito o trabalho.
— Nós é que agradecemos (que use os nossos serviços).

ou

— O João vai ser o primeiro a agradecer.
— Não, nós é que agradecemos (primeiro).

ou, agora sem haver duas partes a agradecer:

Eles acham que nos estão a fazer um favor, e a culpa é nossa — nós é que agradecemos sempre.

Já a outra frase parece-me difícil usá-la com agradecer no presente sem que haja mais qualquer coisa. Por exemplo, à pergunta Quem agradece primeiro?, poderia responder-se Nós somos quem agradece primeiro.

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