Encontra-se no passado a palavra caralho usada em situações em que hoje causaria escândalo. No Corpo Informatizado do Português Medieval encontramo-la em três cantigas de escárnio e maldizer dos séculos XIII e XIV. Eis um exemplo atribuído a Pero Garcia Burgalês (Wikiédia), com itálico meu em todas as citações:
Maria Negra [é] desventuirada!
E porque quer tantas pissas comprar,
pois lhe na mãã nom querem durar
e lh’assi morrem aa malfada[da]?
((V5)) E num caralho grande que comprou,
onte ao serão o esfolou,
e outra pissa tem já amormada.
As cantigas de escárnio e maldizer usam uma linguagem mais colorida que a encontramos noutros textos da época. Mas que dizer deste texto, de caráter científico, identificado no Corpus do Português como o Códice de Valentim Fernandes de 1506 – 10:
Os negros fazem hûu arpam e ho untam com herva peçonhenta / atado bem em hûa asta pesada / E o negro que ja sabe per onde ha de vijr o aliffante / esta sobre hûa aruore e leixa cayr o dito arpam ao aliffante quando passam muytos juntos / Emtam o negro lhe segue hûa legoa ou duas // ou mais ata onde vaa a morrer / E se vaa ter a outra jurdiçam tornam lhe o aliffante ou pagam lhe ou põem lhe guerra por ysso / E comem no Ho melhor comer delle he as unhas e a tromba e ho caralho sobre todo
Então a questão é: estes exemplos são aberrações, ou caralho era mesmo uma palavra que era normalmente usada quando se queria referir o dito cujo? Se era uma palavra aceitável, quando é que o deixou de o ser?