Todos os casos que indicaste são típicos do português europeu informal. Em nenhum deles o pretérito imperfeito estabelece qualquer tipo de relação com um tempo de referência passado — tem antes um valor modal.
Primeiro, o uso do pretérito imperfeito do indicativo pelo condicional (futuro do pretérito) em orações condicionais ou equivalentes. Na primeira frase há um antecedente implícito:
Eu até deixava aqui o meu site de memes originais (...), mas, se o fizesse, eles depois estragavam o 9GAG.
Sobre este assunto, diz a Gramática do Português editada pela Gulbenkian, na pág. 520 (numa secção escrita por Fátima Oliveira):
Em construções condicionais, o pretérito imperfeito pode (em português europeu) [negrito meu] ser usado na oração consequente em vez do condicional como se ilustra em:
(20) a. Se a Maria tivesse lido o jornal [já sabia/saberia] as notícias].
b. [A Maria tomava/tomaria esse remédio] se o médico lho recomendasse.
Nestes dois casos, obtém-se uma interpretação epistémica (ou seja, de possibilidade) de toda a frase; em particular (20b) [...] tem uma leitura contrafactual [...].
Do mesmo modo, em construções paratáticas como [as seguintes], o imperfeito também pode ser usado, a par do condicional, com uma interpretação contrafactual [...]:
(21) a. Ele bebeu durante toda a noite. Mais um copo e ultrapassava/ultrapassaria os limites de álcool no sangue (cf. se tivesse bebido mais um copo, ultrapassava/ultrapassaria os limites de álcool no sangue)
b. Os bombeiros chegaram no momento exato. Mais um minuto e a criança afogava-se/afogar-se-ia. [...]
Compare-se (21b) com os bombeiros acorreram ao local, mas [um minuto depois a criança afogava-se]. [Onde a expressão de localização temporal anafórica permite uma leitura temporal de Passado do imperfeito]
Repare-se que mesmo a frase (20b) pode ser interpretada contrafactualmente.
Existem contudo outros casos menos acentuadamente modais em que o pretérito imperfeito pode substituir o futuro do pretérito. Fátima Oliveira (nas Actas do 2.º Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, 1986) dá o seguinte exemplo (pág. 88):
Ele soube que eu não vinha no dia seguinte.
Mas partindo das condicionais, encontramos frases em que poderá estar oculta uma condicional (por exemplo «se não te importasses») e o imperfeito «serve para ativar uma hipótese, ou sugestão, a decidir e por isso pode ganhar a força ilocutória de proposta, pedido, anúncio de intenção, etc., consoante as condições do contexto e da situação» (Oliveira , 89). Alguns exemplos de Oliveira e da Gramática do Português:
- Espera um pouco. Ia só ali buscar um livro.
- Sendo assim, fazia o almoço num instante e depois saíamos.
- Agora, bebíamos um cafezinho, não?
- Se chegarmos a horas ao Porto, ainda íamos a tua casa.
- Amanhã passava pelo seu gabinete.
- Vocês podiam contar agora coisas da vossa viagem.
Daqui partimos para os casos de “delicadeza”, casos nos quais se insere a tua segunda frase. Oliveira dá os exemplos:
Vinha agradecer-lhe [...] [citando a gramática de Cunha e Cintra]
Fazia a fineza de… ?
Davas-me a direção do Pedro?
Aqui não está em causa qualquer oração condicional. O futuro do pretérito poderia ser usado com valor modal semelhante nas duas últimas frases, algo que é mais comum no Brasil, a julgar por este artigo de Marine e Barbosa intitulado Gostava que fizessem este exercício. – Gostava ou gostaria?. Oliveira diz que este uso é uma estratégia para «evitar uma afirmação peremptória de intensão ou de autoridade e em exprimir a deferência que merece o enunciatório» (pág 90).
Também temos usos em que o imperfeito marca um contraste. Dados estes exemplos:
- A - O que estás aqui a fazer?
B - Estava à espera do jornal.
- Já não te via há muito tempo.
- Fazia-te em Évora.
A interpretação destas frases assinala a existência de dois intervalos exclusivos — aquele indicado pelo imperfeito e um outro imediatamente anterior ao momento da enunciação, na transição dos quais se operou uma mudança de estado. No caso da última frase, a transição faz-se entre aquilo que o enunciador acreditava ser o mundo real e o mundo real (Oliveira, p. 83). Este efeito de contraste (a que não é alheio o facto de o imperfeito ser usado em condicionais contrafactuais) é também conseguido através da criação de um mundo irreal que contrasta com um mundo real em frases como (Oliveira, 84):
Pensava que eras médica.
Querias!…
Voltando à frase inicial:
Eu até deixava aqui o meu site de memes originais, para quem está a dizer que gosta dos memes em Brasileiro, mas depois eles estragavam o 9GAG.
O primeiro deixava já não nos deverá surpreender. Existe em certa medida uma condicional implícita (se eles não fossem depois estragar o 9GAG, eu deixaria aqui o meu site de memes originais), que é expressa com recurso a um mundo irreal em que o enunciador anunciaria o seu site de memes originais, construído pelo imperfeito.
Estes usos modais do imperfeito hão de ocorrer com menor frequência no Brasil, mas não tenho muitos dados a esse respeito. A gramática de Evanildo Bechara (gramático brasileiro), em todo o caso, menciona alguns (pág. 345 da versão eletrónica da 37ª ed.):
Nos pedidos e solicitações [o pretérito imperfeito] ou denota que duvidamos da realização do fato ou exprime um desejo feito com modéstia ou com o simples
propósito:
“Queria viver para o seu filho – é como ele explicava o desejo da
vida”.
Sr. Manuel, eu desejava telefonar.
Pode substituir, principalmente na conversação, o futuro do
pretérito, quando se quer exprimir fato categórico ou a segurança do
falante:
“Se me desprezasses, morreria, matava-me”