Semanticamente, quer _porque_, quer _pois_, podem introduzir **causas** (caso em que a oração introduzida por _pois_/_porque_ tem de descrever uma situação anterior àquela da da oração principal), ou uma **motivação**/**justificação**. > * Em Lisboa, **porque** é um meio mais cosmopolita, gerou-se uma maior diversidade e instabilidade. [causa] > * Preferia jogar com a Inglaterra, **porque** os romenos têm um futebol demasiado parecido com o nosso. [justificação] > * Na altura das chuvas, tinha na escola uns sapatos e umas roupecas para trocar, **pois** chegava todo molhado... [motivação] > * A água ferveu, **pois** atingiu os 100°C. [causa] Isto não significa que _porque_ e _pois_ sejam usados com a mesma frequência relativa para introduzir cada tipo de orações. _Porque_ introduz orações causais mais frequentemente do que _pois_ e _pois_ orações explicativas mais frequentemente do que _porque_. Uma outra diferença semântica prende-se com o facto de que _porque_, quando é colocado após a oração principal, tende a introduzir informação que é apresentada como nova, que não é do conhecimento geral (_idem_, pág. 2009). Este não é geralmente o caso com _porque_ na posição inicial ou com _pois_. Em termos de registo, _pois_ tende a ser mais usado na escrita. A maioria das ocorrências de _pois_ na oralidade correspondem a uma valor conclusivo (mais no fim da resposta). Em relação a _porque_, existe uma relação entre o valor semântico e a sua posição (pág. 2008): > [Q]uando tem um valor explicativo, a oração [com _porque_] ocupa sempre a posição final e é precedida por uma rutura entoacional, marcada por uma vírgula na escrita (cf. (96a)). Quanto tem valor causal, a oração pode ocorrer em posição inicial ou final, mas quando é final, não é geralmente antecedida de rutura entoacional (cf. (96b) e (96c)): > > (96) a. O diretor já chegou, _porque as luzes do gabinete estão acesas_. > b. _Porque era domingo_, a loja estava fechada. > c. A loja estava fechada _porque era domingo_. Quando _porque_ tem um valor _causal_, comporta-se como uma conjunção subordinativa. A subordinação adverbial tem três propriedades que não são satisfeitas por _pois_, independetemente do valor semântico (_idem_, pág. 2009): 1. A possibilidade de ocorrerem em posição inicial: > _Porque estava bom tempo_, os pescadres ficaram em terra. > *_Pois estava bom tempo_, os pescadores ficaram em terra. 2. A possibilidade de serem coordenadas: > Estou cansado _porque tenho tido muito trabalho e porque o meu filho tem estado doente_. > *Estou cansado, _pois tenho tido muito trabalho e pois o meu filho tem estado doente_. 3. A colocação pré-verbal dos pronomes clíticos em orações finitas (só relevante no português europeu): > Estou mais aliviado _porque lhe contei a verdade_. > *Estou mais aliviado, _pois lhe contei a verdade_. Se _porque_ introduzir uma oração explicativa, as propriedades sintáticas são geralemente semelhantes àquelas das orações explicativas introduzidas por _que_, as quais estão entre as de _porque_ causal (que satisfaz 1-3) e as de _pois_ (que não satisfaz 1-3). Em particular, o ponto 1 não é satisfeito (não é permitida a posição pré-verbal, como já foi mencionado), a ênclise a próclise são ambas possíveis (ponto 2), e a coordenação é possível mas marginal. A _Gramática do Português_ dá estes exemplos com _que_ (pág. 2010): > Acorda, _que o sol já vai alto_! > *_Que o sol já vai alto_, acorda! > Tem cuidado, _que ele te bate/bate-te._ > ?Vem-te deitar, _que já é tarde e que temos de nos levantar cedo_! ### _Pois_ conclusivo Este _pois_ é semelhante a outros conectores conclusivos como _assim_, _logo_, _por conseguinte_, _por consequência_, _por isso_ e _portanto_, mas tendo a particularidade de só poder ocorrer logo após o verbo (_idem_, pág. 1810): > Os concorrentes ganharam um carro; estavam, _pois_, muito contentes.