***Ir embora*** e ***ir-se embora*** são igualmente corretos. Na minha experiência de falante nativo de Portugal, nenhum deles é mais formal ou coloquial que o outro; nem mais bem-sonante que o outro com uma ou duas exceções. ***Tu foste embora*** rola muito melhor que ***tu foste-te embora***―aquele *te-te* é chatinho de articular e não soa particularmente bem. Na prática, na fala relaxada em Portugal aquilo é simplesmente pronunciado como um duplo *t*, *fostt’ embora*, que mal se distingue de *fost’ embora*. ***Nós fomo-nos embora*** soa bem, mas dá mais trabalho a articular que ***nós fomos embora***. Já nas outras pessoas, o clítico articula-se muito bem. *Eu vou-me embora, ele vai-se embora, eles foram-se embora*, etc. rola muito bem: na fala o *me* e o *se* enfiam-se ali muito bem entre o verbo e *embora*. No caso da próclise (clítico ante do verbo; e.g. *não me vou embora*), a articulação é fácil e bem-sonante em todos os casos. Com estas ideias eu fui ao Google ver se as frequências das várias frases confirmava a minha intuição: que o pessoal tenderia a evitar *foste-te embora, vamo-nos embora*, e *fomo-nos embora*. Confirma mais ou menos. Já que tive o trabalho de coligir aqueles números todos, ponho-os aqui para quem tiver curiosidade. Alguns padrões que se observam. De uma maneira geral os portugueses são mais adeptos do clítico que os brasileiros. A exceção é no *eu vou-me* e *eu me vou*: estas formas são muito usadas quer por brasileiros quer por portugueses; é onde o clítico é mais usado. Depois aquilo que me levou a ir ver estes números. Realmente *tu foste-te embora* é pouco frequente; nomeadamente, em Portugal, muito menos que *tu te foste embora* ou *tu vais-te embora*, o que sugere que de facto aquele *te-te* afugenta o pessoal. Com *nós*, o caso é mais complicado. O clítico é pouquíssimo usado, mas tanto o é após o verbo (onde dá trabalho) como antes do verbo (o que eu não estava à espera). Além disso com a locução pronominal *a gente*, semanticamente equivalente a nós, o clítico também é pouquíssimo usado, e aí a facilidade de articulação é a mesma que com *ele* (é *vai-se* em ambos os casos). Isto leva-me a crer que a razão do baixo uso do clítico com *nós* terá que ver com outras razões. Omitindo o *nós*, a frequência do uso do clítico antes do verbo aumenta em Portugal. Por exemplo *quando nos fomos embora* está a 66% de *quando fomos embora (não está na tabela). Portugal Brasil Sem % de “sem clítico” Sem % de “sem clítico” clítico ênclise próclise clítico ênclise próclise Eu vou embora 136 110% 24% 142 163% 41% Tu vais embora 32 97% 84% 105 19% 18% Ele vai embora 129 64% 62% 285 40% 16% A gente vai embora 20 30% 5% 260 2% 0% Nós vamos embora 120 20% 13% 261 5% 1% Eles vão embora 102 74% 51% 324 6% 11% Eu fui embora 87 71% 51% 255 35% 7% Tu foste embora 50 42% 74% 89 22% 22% Ele foi embora 159 74% 52% 129 65% 23% A gente foi embora 7 14% 0% 185 3% 0% Nós fomos embora 81 10% 6% 217 1% 9% Eles foram embora 99 77% 47% 306 14% 6% Chave: Por exemplo, na primeira linha de Portugal, há 136 ocorrências sem clítico (“eu vou embora”); com clítico há 150 (110% de 136) ocorrências de ênclise (“eu vou-me embora”) e 32 (24% de 136) de próclise (“eu me vou embora”).