Adjunto adnominal não pode ser, pois o adjunto adnominal subordina-se, como dizes, a um substantivo, coisa que segregadas não é. Complementos nominais subordinam-se a adjetivos (como em sou responsável pelo erro), substantivos e advérbios, logo se considerássemos segregadas como adjetivo, pelo organismo seria o seu complemento nominal. No entanto, segundo a análise deste artigo no Ciberdúvidas e este outro a frases do mesmo tipo (como segundo a cronologia feita por Pessoa […]), o segregadas é verbo e não adjetivo.
Então, pelo organismo é agente da passiva, e segregadas pelo organismo é uma oração subordinada reduzida de particípio. Esta é também a análise na Nova Gramática do Português Contemporâneo de Celso Cunha e Lindley Cintra (Lisboa, 2014, doravante C&C, p. 756-7), que passo a citar:
[…] as orações subordinadas substantivas, adjetivas e adverbiais podem estar:
1.º) Desenvolvidas […]
2.º) Reduzidas, quando não apresentam nexo subordinativo e têm o verbo no infinitivo, no gerúndio ou no particípio:
[…]
Que seria do Futuro se trocássemos esses hábitos / consagrados pela experiência / e nos deixássemos arrastar pelos falsos profetas?
Especificamente sobre o agente da passiva, diz o Clube do Português:
Às vezes, o agente da passiva vem ligado a apenas um verbo no particípio em vez de locução verbal. Isso acontece quando a oração é reduzida de particípio.
[…]
A pressão feita pela professora surtiu efeito.
Portanto a tua frase e a seguinte são equivalentes:
Isso dependia das substâncias segregadas pelo organismo
Isso dependia das substâncias que foram segregadas pelo organismo
Em ambas, o parte a negrito é uma oração subordinada adjetiva que modifica o nome substâncias. No teu exemplo a oração é reduzida de particípio; pelo organismo é o agente da passiva em ambas.
Complementos, adjuntos e sintagmas preposicionais
Pelo organismo é um sintagma preposicional, porque é encabeçado por uma preposição: por (na forma contraída pelo). Sintagmas preposicionais podem exercer várias funções sintáticas, por exemplo (exemplos tirados de C&C, p. 174 – 200):
- Ajunto, adnominal (“homem de consciência”) ou adverbial (“dançar no meio da sala”);
- complemento nominal (“nojo de si mesma”);
- Complemento verbal: complemento indireto (“quem daria dinheiro aos pobres”), complemento oblíquo (“duvidava da riqueza da terra”), predicativo do sujeito (“esta linha é de morte”), predicativo do complemento direto (“deixou o avozinho de rastos”), ou agente da passiva (“um jornal é lido por muita gente”).
Ora, o agente da passiva é um complemento verbal (C&C, p. 194); não é um adjunto. C&C (p. 200) apresenta um teste para distinguir entre os dois. Num par o que aconteceu ao [sujeito]? – resposta, um adjunto adverbial tanto pode aparecer na pergunta como na resposta; complementos só podem aparecer na resposta. Por exemplo, em substâncias segregadas após o estímulo pelo organismo, o constituinte após os estímulo gera frases gramaticais tanto na pergunta como na resposta, mostrando assim que é um adjunto:
Que aconteceu às substâncias? — Foram segregadas após os estímulo pelo organismo.
Que aconteceu às substâncias após o estímulo? — Foram segregadas pelo organismo.
Mas pelo organismo só pode aparecer na resposta (como nas frases acima); na pergunta gera uma frase agramatical (indicado por *), mostrando assim que é um complemento:
*Que aconteceu às substâncias pelo organismo? — Foram segregadas (após o estímulo).
*Que aconteceu às substâncias após o estímulo pelo organismo? — Foram segregadas.
A lógica deste tipo de teste vem explicada na Gramática do Português da Gulbenkian (Lisboa, 2013, vol. II, p. 1163-4): o verbo mantém com os seus complementos uma relação muito mais estreita do que com os adjuntos adverbiais; C&C dizem que os complementos são “termos integrantes” da oração (C&C, p. 180-1), enquanto os adjuntos são “temos acessórios” (C&C, p. 197); por isso o complemento tem de ficar junto do seu verbo (na mesma oração; não necessariamente adjacente); o adjunto pode ficar separado. O teste da Gramática do Português é diferente, para frases ativas. Aplicado diretamente a frases passivas ficaria estranho (?O que as substâncias fizeram foi serem segregadas ??). Mas adaptando com acontecer, dá igualmente frases agramaticais quando se separa o complemento do verbo:
*O que aconteceu às substâncias pelo organismo foi serem segregadas (após o estímulo).
*O que aconteceu às substâncias após o estímulo pelo organismo foi serem segregadas.
Com o adjunto não há problema:
O que aconteceu às substâncias após o estímulo foi serem segregadas pelo organismo.