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"Eu que lute" é uma expressão que está sendo utilizada no Brasil. Ela significa que o problema é do falante, e que ele deve se esforçar para resolve-lo sozinho.

Eu estou na dúvida se esse é um uso correto do modo subjuntivo/conjuntivo, já que "que eu lute" me parece ser a forma correta.

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  • 5
    Espero bem que esteja. Eu uso esse tipo de construção a toda a hora. Muito comum em Portugal: ele que se despache, que eu não espero; eles que se entendam; comeram tudo, e eu que me lixe. Deve haver um nome para isto.
    – Jacinto
    Nov 15, 2021 at 9:26
  • 2
    @Jacinto Eu acredito que o significado seja o mesmo de "que ele se despache", expressa um desejo. Mas me parece que essa construção tem uma nuance de "não é problema meu".
    – Hebert AG
    Nov 15, 2021 at 11:05
  • 1
    Herbert, exato: ele que o faça se quiser, por eu não quero saber disso para nada.
    – Jacinto
    Nov 15, 2021 at 13:01
  • 1
    beeshirts.com.br/produtos/eu-que-lute Isso para mim é uma variante do conhecido: Que se [verbo subjuntivo], [pronome]. Que [eles] se danem. Ele que se despache. é: Que ele se despache. Ou: que se despache ele. É uma inversão da estrutura tradicional. Que lutem [elas] para ter um bumbum como um modelo. Ou: que o faça ele.
    – Lambie
    Nov 15, 2021 at 15:38
  • 2
    @stafusa. O negócio é o seguinte: Se eu te dizer: "eles que se virem", já estavamos conversando sobre um assunto. Também, é uma forma falada, não escrita. O estranho no "Eu que lute" é que normalmente esse subjuntivo não se ouvre com a primeira pessoa do singular.
    – Lambie
    Nov 15, 2021 at 20:31

1 Answer 1

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A ordem natural é que + sujeito + verbo + objeto + complemento, como em «que ele envie uma carta para mim!»; assim, a frase na ordem direta seria «que eu lute». Então, antecipamos eu na frase, dizendo «eu que lute», ganhando ênfase, o que se chama antecipação ou prolepse. Isto é comum na literatura de histórias e muito na língua falada que conheço.

O escritor Machado de Assis fez algo semelhante:

[...] melhor é afrouxar a rédea à pena, e ela que vá andando, até achar entrada.

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  • Isto não está de acordo com as definições de anástrofe, hipérbato e sinquise no Celso Cunha e Lindley Cintra. Tens um resumo aqui. Quando muito seria um hipérbato em sentido lato, mas mesmo aí é "inversão da ordem normal das palavras na oração", e parece-me que em "ela que vá andando", o ela já saiu da própria oração. Poderá ser uma prolepse.
    – Jacinto
    Nov 24, 2021 at 19:05
  • @Jacinto, obrigado Jacinto pelo comentário. Não tenho certeza, mas, em «Os pastores parece que vivem no fim do mundo!», ouço chamar os pastores e depois falar deles, enquanto, em «Eu que lute», não ouço chamamento, apenas eu deslocado, ou seja, não me parece que eu seja doutra oração. Se ouves diferente, seria bom ter uma resposta tua.
    – Schilive
    Nov 24, 2021 at 19:35
  • Não é uma questão de ouvir. No conjuntivo independente, a oração começa com o que. Na outra, os pastores também não é oração nenhuma: não há la verbo nenhum; há uma oração subordinante, parece, e uma subordinada, que vivem... pastores é algo à parte. De qualquer modo, em que eu lute, eu não é complemento (ou determinante, como lhe chama Celso Cunha) de que, portanto não é anástrofe, de acordo a com a definição deles. Nota que a fronteira duma oração não tem de ser marcada por pausa. Por exemplo, em ele diz que vem há duas orações.
    – Jacinto
    Nov 24, 2021 at 21:34
  • @Jacinto, acho que agora entendi o que quiseste dizer e o que diz o livro — eu confundi o significado de preceder. Agora que entendi, concordo. Vou mudar a pergunta depois. Obrigado.
    – Schilive
    Nov 24, 2021 at 22:07
  • 1
    @Jacinto, desculpa. Eu tinha me esquecido completamente de te responder e da resposta.
    – Schilive
    Dec 15, 2021 at 21:59

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