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Vou frequentemente a Portugal e nunca ouvi um nativo usar o gerúndio como é usado no Brasil. Em ptPT usa-se "estar a + infinitivo".

Enquanto no Brasil dizemos "ela está cantando" e "ele está discutindo", nossos amigos Lusitanos dizem "ela está a cantar" e "ele está a discutir". Como foi que se deu essa diferença entre o falar dos dois povos? Já existiu o gerúndio em ptPT e foi aos poucos substituído por "estar a + infinitivo? Será que ainda é usado e "calhou" que eu nunca percebi?

Why is it that the Portuguese never use the gerund? I often visit Portugal, where I have family, and I never heard a Portuguese use the gerund the way it is used in Brazil. Brazilians say "she is singing" whereas the Portuguese use a "estar a + infinitive" construction to mean the same. Have the Portuguese ever used the gerund or can it be that they still use it but I never heard?

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  • 2
    É sempre difícil determinar uma explicação exata que explique por que isto ou aquilo aconteceu na língua. É melhor perguntar quando e como.
    – tchrist
    Commented Aug 15, 2015 at 3:02
  • @tchrist "que explique" is a pleonasm and, imho, would be better omitted.
    – Centaurus
    Commented Aug 15, 2015 at 23:47
  • 1
    Pleonasmo é "explicação que explique", toda a expressão, não apenas o "que explique". Só pra deixar claro =)
    – LucasMotta
    Commented Aug 17, 2015 at 10:55

4 Answers 4

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Bom, não é verdade que em Portugal não se usa o gerúndio. A construção "estar + <gerúndio>" é um caso particular -- e mesmo essa construção é ainda usada Portugal, principalmente no Alentejo e no Algarve. Traduzindo deste artigo:

Em linhas gerais, podemos dizer que o uso do gerúndio no português europeu é bastante semelhante ao do português brasileiro. E de facto, esta forma verbal ocorre nos mesmos (cinco) tipos principais de contexto sintático e associa-se aos mesmos valores semânticos interproposicionais -- por exemplo, temporal, elaborativo, causal, instrumental, condicional e contrastivo -- quando usado como advérbio.

mas

Mais notável é a diferença entre EP e BP que consiste no facto de que em (pelo menos algumas variedades de) EP, o gerúndio tende a cair em desuso após alguns verbos auxiliares aspetuais, como estar ou andar, ou após algumas orações adverbiais envolvendo sobreposição temporal de atividades, por exemplo. Uma vez que estas construções são muito comuns, o impacto deste tipo de variação entre EP e BP torna-se bastante percetível.

estoutro artigo explora o período em que o uso daquilo a que chama "infinitivo gerundivo" começou a ganhar terreno e conclui que se trata de um fenómeno que se iniciou no final do século XIX:

enter image description here

Quanto ao porquê, este último artigo sugere uma possível via para a gramaticalização do infinitivo gerundivo -- construções ambíguas em que a + infinito pode significar o mesmo que o gerúndio ou onde podemos atribuir um significado não vazio à preposição a:

Dados ambíguos –- Esses reúnem os casos em que, na alternância gerúndio x infinitivo gerundivo há possibilidade de uma dupla leitura para tal “a” (1- vazio de sentido; ou também 2- com o sentido de preposição “para”, “junto a”, etc). A hipótese para esse grupo de fatores é de que o avanço do infinitivo gerundivo nos casos ambíguos pode estar a apontar para uma possível gramaticalização da preposição “a” como um “prefixo aspectual”.

Exemplo de cambialidade ambígua entre infinitivo gerundivo e gerúndio:
“(...) eu já não posso mais, porque estou a fazer uma coisa, mesmo que não tenha importância, levo três quartos de hora a fazer uma coisa que eu fazia em cinco minutos”. (Oc-P-70-1M-002) Aqui, poderíamos novamente ter uma dupla interpretação: “levo três quartos de hora fazendo uma coisa” ou “levo três quartos de hora para fazer uma coisa”.

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  • Adicionalmente: portuguese.stackexchange.com/a/696/261 Commented Aug 15, 2015 at 9:57
  • Esta questão da formação do formação do infinitivo gerundivo merecia ser mais aprofundada. Tou a pensar que estar à espera e estar a esperar são sinónimos, tal como estar a escutar/à escuta, andar a caçar/à caça.
    – Jacinto
    Commented Jan 17, 2016 at 12:47
  • Será porventura também preguiça ou simplificação da língua? Dizer apenas o infinitivo seguido da preposição a, é mais fácil de memorizar e proferir, que o gerúndio do verbo, ou seja, extrair a raiz do verbo e adicionar endo ou indo. Será? Commented Jan 1, 2019 at 20:00
  • O link para "estoutro artigo" apodreceu, você consegue achar um que funcione, Artefacto, ou ao menos a citação completa (título, autores, etc.) do artigo?
    – stafusa
    Commented May 23, 2020 at 2:02
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Usa-se o gerundio sim, mas menos frequente que no Brasil. Ex.:

  • sendo assim
  • indo eu
  • ir falando

etc.

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O português europeu até o século XIX utilizava-se do gerundio. Estar + a é uma evolução; portanto, é recente. Haja vista que o sul de Portugal continou com a forma antiga. O Brasil sempre usou a forma antiga. Artigo publicado na Revista Argumento, Ano 18, Número 27 (2017), cujo título é: PERÍFRASES COM GERÚNDIO E COM INFINITIVO PREPOSICIONADO: REVISITANDO UM DOS ASPECTOS DA HIPÓTESE CONSERVADORA DA FORMAÇÃO DO PB1 Lelia Alves de Oliveira

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  • Olá @A.M., tens referência sobre isso para dar base a tua resposta?
    – Peixoto
    Commented Apr 3, 2019 at 12:23
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    Sim. Artigo publicado na Revista Argumento, Ano 18, Número 27 (2017), cujo título é: PERÍFRASES COM GERÚNDIO E COM INFINITIVO PREPOSICIONADO: REVISITANDO UM DOS ASPECTOS DA HIPÓTESE CONSERVADORA DA FORMAÇÃO DO PB1 Lelia Alves de Oliveira
    – A. M.
    Commented Mar 1, 2020 at 12:24
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Para mim, até pela época em que foi aparecendo, é uma influência do Francês, que era muito forte (pode mesmo dizer-se quase hegemónica) nas classes instruídas, sobretudo a partir de meados do século XIX. No Brasil essa influência podia também fazer-se sentir, mas talvez menos intensamente.

Exemplos (ilustrativos da tendência do Francês, não pretendem ser reconstituições):

  • não tem que ficar esperando (vous n'avez pas à attendre)
  • se pôs chorando (il est resté là à pleurer)
  • estou lendo (Je suis en train de lire)
  • o que resta para ir fazendo (ce qu'il reste à faire)

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