O segundo exemplo é agramatical.
a tropa atacará o portão ao os aldeões
"ao" é a contracção da preposição a e do artigo ou pronome o.
"ao os" seria a+o+os:
- a - preposição
- o - artigo definido masculino singular
- os - artigo definido masculino plural
Não conheço nem imagino uma situação em que a gramática permita dois artigos seguidos.
Mas o primeiro exemplo eu acho que sim, que é correto, porque não?
- Atacaram os portões aos aldeões.
- Atacaram-lhes os portões.
Alguém atacou os portões (objeto direto), dos/aos aldeões (objeto indireto).
Alguém, um inimigo qualquer, atacou: não aos monjes, não aos mercadores, mas aos aldeões.
E atacou-lhes: não as suas janelas, não os seus telhados, mas os seus portões.
Eu entendo ainda, nesta construção, algum ênfase não nos inimigos atacarem algo dos aldeões, mas em algo dos aldeões ser atacado.
Não sei explicar o porquê, gramaticalmente. Sei que me soa bem, e que consigo construir uma frase assim.
É possível que seja uma construção exclusiva a Portugal, e que não faça sentido no Brasil.
Talvez seja um hispanicismo, como é sugerido por Wtrmute num comentário desta pergunta. A influência do galego é clara no norte de Portugal; também a do leonês/mirandês, e a do castelhano.
Por exemplo, eu poderia escrever:
Irritados com a resistência, os salteadores normandos berraram que agora é que ia ser, que se os aldeões não se rendessem toda a gente ia ser exterminada... lançaram ameaças, insultos e flechas sobre os muros da fortificação, mas mesmo assim os aldeões resistiram e não se renderam.
Então, com crueldade premeditada, os normandos procuraram quebrar os aldeões sem se arriscarem. Incendiaram-lhes as casas que estavam fora da fortificação. Destruiram-lhes os campos. Cortaram-lhes as oliveiras e as árvores de fruto. Chacinaram-lhes os animais. Lançaram-lhes flechas incendiárias sobre a fortificação. E, finalmente, com uivos loucos e ferozes, atacaram-lhes o portão da fortificação.
Haverá maneiras diferentes de escrever isto, claro. Não há sempre?
Mas parece-me uma construção perfeitamente legítima.
E se se pode construir com pronome (-lhes), eu entendo que se pode construir com o substantivo original - mesmo se por vezes uma forma seja preferida e usual, e a outra possa soar dissonante.
Estarei enganado?
Por exemplo, podia escrever:
Então, com crueldade premeditada, os normandos procuraram quebrar os aldeões sem se arriscarem. Incendiaram aos aldeãos as casas que estavam fora da fortificação, ignorando claramente o merdado. Destruiram os campos dos aldeões, mas sem tocarem nos que rodeavam o mosteiro. Destruiram aos aldeões o seu futuro e o seu sustento: cortaram as oliveiras e as árvores de fruto, chacinaram os animais de carga e de criação, pisaram os campos as culturas. Em fúria, lançaram sobre os aldeões e a sua fortificação uma chuva de flechas incendiárias. E, com uivos loucos e ferozes, atacaram por fim aos aldeões o portão da fortificação. Em breve a sua fortificação cairia, e no lugar da fortificação ficariam apenas cinzas e ossadas - como mensagem e testemunho.