O aumentativo -ão tem como cognatos e sinônimos -ón do espanhol, -one do italiano, -on do francês, e vem do latim "-ō, -ōnis" (m.). (Não confundir com o sufixo feminino idêntico que forma nomes abstratos como actiō "ação".) Segundo [1] (da pg. 163, traduzido abaixo):
-ón é um sufixo de dupla origem. Em primeiro lugar, procede de -ō, -ōnis, sufixo que deriva nomes de grupos de pessoas a partir de verbos (errō, -ōnis "vagabundo" ← errāre "vagar") e substantivos (buccō, -ōnis "tagarela" ← bucca, -ae "boca"). [...] Em castelhano converteu-se, no primeiro dos casos, num sufixo aumentativo. [...]
Outros exemplos do latim [2]:
- capitō (quem tem cabeça grande) ← caput, capitis;
- comedō (guloso) ← comedō (v.);
- congerō (ladrão) ← congerō (v., levar junto);
- cōnsedō (quem senta junto a outro) ← cōnsedō (v.);
- decuriō (decurião) ← decuria;
- incubō (quem deita em cima) ← incubō (v.);
- labeō/labiō (quem tem lábio grande) ← labium;
- mūliō (quem anda de mula) ← mūlus;
- palpō (bajulador) ← palpō (v., palpar);
- pedō (quem tem pé largo) ← pēs, pedis;
- praedō (ladrão) ← praeda;
- restiō (vendedor de corda) ← restis;
- verberō (quem merece ser surrado) ← verberō (v.).
Porém, não encontrei um que fosse aumentativo literal (por exemplo, pedō não é literalmente um pé largo, mas quem tem um pé largo), exceto talvez cōleō (século 8). Mesmo assim, acho que grande parte do latim vulgar usava esse sufixo também como aumentativo literal porque:
- Os significados são similares.
- Até o romeno, uma das línguas românicas mais distantes do português, tem o aumentativo cognato sinônimo -oi.
Na língua portuguesa antiga escrita, encontrei galeón (galé grande), usado desde o século 13 ou até antes. Também, coraçón (bem mais antiga) talvez fosse originalmente um aumentativo. [3] Resta procurar quando o sufixo começou a ser usado com adjetivos.
Já o sufixo latino -ānus forma adjetivos (Rōma → Rōmānus), não aumentativos. Não há sufixo -anis/ānis em latim.
Referências.
[1]. https://revistadefilologiaespañola.revistas.csic.es/index.php/rfe/article/view/101
[2]. https://www.perseus.tufts.edu/hopper/text.jsp?doc=Perseus:text:1999.04.0059, insira as palavras.
[3]. https://en.wiktionary.org/wiki/Reconstruction:Latin/coraceonem, citando o dicionário etimológico de Coromines e Pascual.
Obs para ANeves: No português antigo e no espanhol atual é can (sem o e final), por isso que se tornou cão não *cãe.