Eu creio que te vão entender. Posso dizer isto apenas muito tentativamente no caso do Brasil; com confiança no caso de Portugal, onde nasci e cresci. E a razão é esta: no meio em que eu cresci, como na maior parte de Portugal, não se conjugam verbos na segunda pessoa do plural: diz-se vocês/os senhores estão, vão, não vós estais, ides. Nem tenho qualquer memória de ter aprendido estas conjugações na escola. No entanto eu compreendo-as.
Já várias vezes me perguntei como é que as aprendi. Creio que na igreja, que eu frequentava dominicalmente na minha infância, o padre usava estas conjugações. Pelo menos são elas que aparecem no Pai Nosso que eu conheço: “Pai nosso que estais nos céus […] perdoai as nossas ofensas […]”; também na “Ave Maria […] rogai por nós […]”. Também é possível que tenha encontrado estas conjugações em obras de ficção logo que comecei a ler: nalgumas histórias passadas em tempos antigos, as personagens tratam-se por vós. E na escola secundária lemos alguma literatura antiga — poesia medieval, crónicas do século XV, Camões— em que há o tratamento por vós.
Não me lembro de em qualquer momento não ter compreendido estas conjugações. E como a minha exposição a elas foi sempre passiva (ouvinte ou leitor, nunca falante) e muito limitada, estou em crer que as compreendi simplesmente pelo contexto, e que provavelmente qualquer falante nativo do português as compreenderá também.
A propósito de obras de ficção, ainda ontem por coincidência, vi na TV The Princess Bride, e nas legendas (em Portugal, séries e filmes estrangeiros, exceto infantis, são legendados) algumas personagens tratam-se por vós — para se dirigirem a várias pessoas, e também em vez do tu para se dirigirem respeitosamente a uma só, como no Pai Nosso e Ave Maria. É o mesmo n’Os Tudors, a passar neste momento em Portugal, e também n’A Guerra do Tronos, que passou há pouco tempo. (E depois tens personagens como o Hound a dizer a um companheiro coisas como, ide f***r-vos, tudo muito respeitosamente!). Isto são apenas três entre as dúzias de filmes e séries que podes ver na TV por cabo em Portugal, mas mostra que quem tratou das legendagens partiu do princípio que o público iria compreender.
Há um caso especial, o norte de Portugal, onde algumas pessoas ainda usam cotidianamente o tratamento por vós. A minha impressão é que são uma minoria, mas mesmo quem não usa estará relativamente familiarizado. Vê os testemunhos pessoais na resposta e comentários a esta pergunta sobre a etiqueta no tratamento por vós no norte de Portugal.
Pronomes vos e vosso, vossa, etc.
Ao contrário das conjugações verbais da segunda pessoa do plural, os pronomes vos, vosso, vossa, etc. são usados por todo o Portugal, porque são usados com os pronomes de tratamento no plural. Por exemplo:
Vocês/os senhores esperem aqui, que eu já vos mostro os vosso lugares
Há puristas que insistem que com você/os senhores deve ser já lhes mostro os seus lugares, mas esta mistura de tratamentos (só no plural) é aceite até mesmo em linguagem relativamente formal. Vê esta pergunta e mais esta.