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Eu nasci no Brasil, SP, SBC. Aqui, não se fala "vós"; digo, não é algo regional.

Porém, eu amo a conjugação e as desinências: convosco, sois, estais. Também adoro as conjugações com acento, "estáveis", e o imperativo, "fazei", "matai-o!".

Eu fiz um teste no Omegle, um site em que se conversa com estranhos aleatórios, perguntando se entendiam e se achavam chato o uso de "vós". Eu acabei perguntando para 17 pessoas, 16 disseram que entendiam perfeitamente e não achavam chato; boa parte, na realidade, disse que não achava nem chato nem legal, como se não importassem. 1 estava neutro, porque não se importava.

Após isso, eu comecei a pensar se, se eu não soubesse a conjugação, eu entenderia. Cheguei à conclusão que sim, talvez não entendesse "para fazerdes", mas entenderia por eliminação e contexto, sem muito esforço -- muitas pessoas falam "para vocês ir", então, fica fácil.

Tendo tais informações em mente, as pessoas realmente me entenderiam se eu falar "vós" em vez de vocês"? Nas situações que o usei, fui entendido, mas isso não diz rem.

P.S.: eu uso "tu", mas as pessoas o entendem tranqüilamente.

A quem disser que é uma pergunta opinativa: não digo que estás errado, mas que eu apresentei observações, podendo quem responder usar próprias observações, e estou pedindo a alguém por uma conclusão lógica, já que não me julgo competente de concluir -- afinal, eu vou sempre tender para um certo lado. Eu não gostaria duma resposta "sim" ou "não", mas aceitarei a melhor.

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  • 3
    Eu acho que a maioria entenderia porque essas palavras, apesar de não serem de uso frequente na língua falada, são ensinadas nas escolas. Além disso, são comuns na Bíblia e nas orações de modo que boa parte das pessoas deve estar habituada com elas.
    – Pedro
    Jul 25, 2020 at 11:35
  • @Pedro, não posso votar por algum motivo, mas eu não tinha pensado na Bíblia.
    – Marius
    Jul 25, 2020 at 14:25
  • 1
    Marius, não podias votar porque ainda não tinhas chegado a reputação 15; agora já deves poder. Não compreendo é qual é exatamente a pergunta. Porque poder usar o tratamento por vós, é claro que podes; ninguém te impede. Eu uso por vezes, na brincadeira. No norte de Portugal ainda há quem use; vê esta pergunta e links que já há.
    – Jacinto
    Jul 26, 2020 at 10:10
  • 1
    E em todo o Portugal é muito comum usar vosso, vos no tratamento por vocês, paralelo ao uso de teu, te com você no Brasil. Vê esta pergunta e também esta.
    – Jacinto
    Jul 26, 2020 at 10:14
  • Em português brasileiro o uso de pronomes de segunda pessoa é desencorajado por diversas gramáticas, como toda escola ensina esses pronomes, ninguém terá dificuldade em entendê-los. São formas provindas do latim, que permaneceram na gramática normativa. Até mesmo formas como Vossa Excelência ou Vossa Senhoria devem concordar com a segunda pessoa: Vossa Excelência está atarefado (vide: www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/…).
    – user8035
    Jul 27, 2020 at 1:09

1 Answer 1

1
+50

Eu creio que te vão entender. Posso dizer isto apenas muito tentativamente no caso do Brasil; com confiança no caso de Portugal, onde nasci e cresci. E a razão é esta: no meio em que eu cresci, como na maior parte de Portugal, não se conjugam verbos na segunda pessoa do plural: diz-se vocês/os senhores estão, vão, não vós estais, ides. Nem tenho qualquer memória de ter aprendido estas conjugações na escola. No entanto eu compreendo-as.

Já várias vezes me perguntei como é que as aprendi. Creio que na igreja, que eu frequentava dominicalmente na minha infância, o padre usava estas conjugações. Pelo menos são elas que aparecem no Pai Nosso que eu conheço: “Pai nosso que estais nos céus […] perdoai as nossas ofensas […]”; também na “Ave Maria […] rogai por nós […]”. Também é possível que tenha encontrado estas conjugações em obras de ficção logo que comecei a ler: nalgumas histórias passadas em tempos antigos, as personagens tratam-se por vós. E na escola secundária lemos alguma literatura antiga — poesia medieval, crónicas do século XV, Camões— em que há o tratamento por vós.

Não me lembro de em qualquer momento não ter compreendido estas conjugações. E como a minha exposição a elas foi sempre passiva (ouvinte ou leitor, nunca falante) e muito limitada, estou em crer que as compreendi simplesmente pelo contexto, e que provavelmente qualquer falante nativo do português as compreenderá também.

A propósito de obras de ficção, ainda ontem por coincidência, vi na TV The Princess Bride, e nas legendas (em Portugal, séries e filmes estrangeiros, exceto infantis, são legendados) algumas personagens tratam-se por vós — para se dirigirem a várias pessoas, e também em vez do tu para se dirigirem respeitosamente a uma só, como no Pai Nosso e Ave Maria. É o mesmo n’Os Tudors, a passar neste momento em Portugal, e também n’A Guerra do Tronos, que passou há pouco tempo. (E depois tens personagens como o Hound a dizer a um companheiro coisas como, ide f***r-vos, tudo muito respeitosamente!). Isto são apenas três entre as dúzias de filmes e séries que podes ver na TV por cabo em Portugal, mas mostra que quem tratou das legendagens partiu do princípio que o público iria compreender.

Há um caso especial, o norte de Portugal, onde algumas pessoas ainda usam cotidianamente o tratamento por vós. A minha impressão é que são uma minoria, mas mesmo quem não usa estará relativamente familiarizado. Vê os testemunhos pessoais na resposta e comentários a esta pergunta sobre a etiqueta no tratamento por vós no norte de Portugal.

Pronomes vos e vosso, vossa, etc.

Ao contrário das conjugações verbais da segunda pessoa do plural, os pronomes vos, vosso, vossa, etc. são usados por todo o Portugal, porque são usados com os pronomes de tratamento no plural. Por exemplo:

Vocês/os senhores esperem aqui, que eu já vos mostro os vosso lugares

Há puristas que insistem que com você/os senhores deve ser lhes mostro os seus lugares, mas esta mistura de tratamentos (só no plural) é aceite até mesmo em linguagem relativamente formal. Vê esta pergunta e mais esta.

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  • No Brasil, acho que também entenderão. Até porque "vós" é bem regular. Principalmente se souber o motivo da coexistência de "-des" e "-eis"; ex.: "fazeis, mas não era para fazerdes!". "matades" > "mata-es" hiato > "mataes" ditongo > "matais", pelo que sei, apenas aconteceu em "-d-" intervocálico (entre vogais), então, "tendes" não se tornou "teneis" ou "te~eis".
    – user4788
    Aug 9, 2020 at 16:54

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