Eu sempre usava me-dá para pedir alguém me dar alguma coisa. Acabei de ler um texto e achei:
Dê-me o livro.
Sei que gramaticalmente esta frase está certa. Mas por que é que algumas pessoas dizem:
Me-dá o livro.
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Sign up to join this communityEu sempre usava me-dá para pedir alguém me dar alguma coisa. Acabei de ler um texto e achei:
Dê-me o livro.
Sei que gramaticalmente esta frase está certa. Mas por que é que algumas pessoas dizem:
Me-dá o livro.
É necessário esclarecer primeiro que há duas dimensões para a resposta:
1) oralidade vs registro escrito
2) diversidade da língua em função dos regionalismos
Primeiro, as gramáticas servem para regulamentar o registro escrito da língua, que é uma expressão necessária para, por exemplo, redigir leis, contratos e acordos internacionais e outros documentos, nos quais objetiva-se, entre outros, reduzir ao mínimo a possibilidade de ambiguidade ou, mais especificamente, a multiplicidade semantica. A partir do referencial de alguma linguagem falada, cria-se uma codificação de como essa lingua deverá ser registrada em escrito até que ocorra uma reforma ortográfica.
Contudo, língua não é o que a gramática fixa, mas sim o que os seus falantes a fazem ser. Nesse sentido, a lingua falada é um ser vivo, com vontade própria e que se recusa a ser algemada. Multiplicidade de sentidos (polissemia) é justamente o que os poetas e compositores buscam, incluindo novas expressões sintáticas. Assim, ao invés de aceitar o jugo da lingua escrita, a lingua falada vai derivando do referencial histórico que foi congelado na gramática e, quando a lingua falada já derivou o suficiente ao ponto da mútua não inteligibilidade com a língua escrita, faz-se a reforma.
Quanto aos regionalismos, se não estou enganado, a forma "Dá-me um beijo!" ainda é uma forma muitíssimo corriqueira à oralidade de pt-PT, ao passo que é forma rara em pt-BR, onde o "Me dá um beijo!" é quase unanimemente preponderante.
Contudo é mister destacar dois pontos referentes ao hífen:
1) o registro escrito dessa forma, com a anteposição do pronome átono, ocorre
ou por falta de domínio da "regra culta" (com todos as aspas que se faça jus)
ou para registrar em escrito propositalmente a oralidade (poesia, depoimentos etc.)
2) qualquer que seja o caso, o que ocorre é uma próclise, que não permite interposição de hífen, como ocorre com a mesóclise e com a ênclise
Apesar disso, as diferenças entre os registros escritos de pt-PT e pt-BR serão muito menos impactantes aos olhos do que serão aos ouvidos as formas orais de pt-PT e pt-BT, beirando a mútua ininteligibilidade em muitos casos.
Eu aprendi na escola que nunca devemos começar uma frase com o pronome oblíquo átono. Contudo, o portuguès escrito é uma coisa, e o português falado informalmente é outra.
Na informalidade, em pt-BR, é muito comum ouvirmos "te devolvo amanhã", "me empresta o seu livro?", "te amo muito". Em filmes, novelas, e na minha vida pessoal, nunca ouvi alguém dizer "amo-te". Acho que se eu dissesse isso a alguma mulher, ela sairia correndo.
Certas formas gramaticais corretas chegam a soar como um pedantismo na língua falada. É o caso de alguém roubar a sua bolsa em uma rua movimentada, e você gritar: Socorro, ladrão, peguem-no! Peguem-no! Embora errado, todos gritariam "pega ele", pega ele!"
Respondendo à sua pergunta: está errado. Não use na língua escrita e evite o uso na língua falada, em situaçõs muito formais. Em situações informais, é o que se espera ouvir.
Obs: Acho que em Portugal ouve-se a forma correta com mais frequência do que no Brasil.