Trata-se de dois verbos diferentes, e pelo menos em Portugal são pronunciados de formas diferentes:
- Pregar ³ (Michaelis) sermões (do latim praedicare) tem o e aberto como em fé: pr[ɛ]gar.
- Pregar ¹ (Michaelis) pregos, bofetões, sustos ou partidas (do latim plicare, segundo o Houaiss), tem o e quase inaudível: pr[ɨ]gar; praticamente /pɾgaɾ/; este fonema [ɨ] não existe no português brasileiro; podem ouvi-lo na Wikipedia (no centro do topo da figura).
Não há diferença quando o e é tónico: eu pr[ɛ]go um sermão ou um prego. Mas há sempre que o e é átono: nós pr[ɛ]gamos um sermão, mas pr[ɨ]gamos um prego.
Isto é em Portugal, e a pergunta é: como é que é no Brasil?
A dúvida surgiu-me quando li em Música ao Longe do Érico Veríssimo (7ª ed, Livraria do Globo, Porto Alegre, 1945, p. 20; negrito meu):
Estamos a primeiro de abril. Dia dos bobos. Tia Cleonice gritou que mamãe estava me chamando. Fui e vi que era um primeiro de abril que ela tinha me prègado.
Ora eu interpreto o acento grave em “prègado” como indicando que o timbre é aberto e que haveria outro pregar com e não aberto. Nunca vi acento grave em e (ou a ou o) que não fosse aberto, e alguns autores usaram-no precisamente “para denotar que a, e, o átonos são abertos, quando haja homógrafos em que êles sejam surdos” (Gonçaves Viana, 1912).
Mas todos os dicionários indicam que o pregar de partidas com as do primeiro de abril é o pregar dos pregos, pontapés e sustos (Michaelis 8, (Aulete 4), que em Portugal é o que não tem timbre aberto. Então e no Brasil como é:
- Qual é a pronúncia dos vários pregares?
- Qual seria a explicação possível para o acento grave no “prègado” do Érico Veríssimo?