A forma de tratamento depende de muitos factores, como a situação social e a classe social, o dialeto e a idade dos falantes.
Do menos para o mais formal, temos tu, você, e finalmente o João, o pai, o senhor, a menina, o professor, etc.
Em Lisboa, tu usa-se:
- Entre amigos, excepto amigos pouco próximos mais velhos,
- entre familiares com uma relação de sangue próxima e geralmente também de sogros para genros. Os filhos tratarem os pais por o pai, os netos por o avô, etc., não é comum hoje em dia.
- Ao falar com qualquer criança ou adolescente jovem,
- entre colegas em qualquer escola ou faculdade,
- de professores para alunos, em geral também na faculdade;
- entre colegas de trabalho na maioria das empresas, mesmo de subordinados para superiores (exceto a falar com quadros de topo numa empresa grande),
- para insultar alguém (por exemplo no trânsito),
- em pessoas abaixo de cerca dos 40 que se conheceram em qualquer situação informal (numa festa, num ginásio, no café, etc.); em geral as mais novas (menos de 30) usarão entre si sempre tu a não ser em interações muito formalizadas (atendimento a clientes, por exemplo, e mesmo assim, em certos bares e outros estabelecimentos com um ambiente mais informal, os empregados tratam-te por tu e esperam que reciproques).
Em situações de fronteira, tu ocorre mais frequentemente se as duas pessoas forem do mesmo sexo ou se forem de uma classe social mais baixa. Por exemplo, um homem a pedir-me um isqueiro na rua (eu sou um homem de 32 anos) trata-me mais frequentemente por tu, mas as mulheres tendem a deixar mais distância, a não ser que sejam muito novas.
Você usa-se pouco em Lisboa, eu em particular nunca uso essa forma de tratamento. Mas vê-se:
- de superiores para inferiores hierárquicos, ou entre iguais, em certas empresas,
- entre amigos pouco íntimos/conhecidos mais velhos (> 50 anos),
- de alguns professores universitários para os alunos,
- em geral, entre pessoas com quem se tem alguma familiaridade mas uma relação afastada: por exemplo, entre vizinhos,
- em publicidade.
Usar você com pessoas que não se conhece é pouco recomendado. O normal, se não encaixar na lista de casos para tu, é omitir qualquer forma de tratamento explícita. Em Portugal pode usar-se si / consigo em situações não reflexas, para além de lhe / o e sujeito omisso, que também são possíveis no Brasil, mas pouco usados.
Para o resto dos casos, para além da forma de tratamento poder ser ambígua, usa-se o nome da pessoa (e.g. A Maria pode chegar aqui?), o jovem, se for uma pessoa mais velha a tratar uma mais nova, ou, um pouco mais formal, o senhor/a senhora/a menina.