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A resposta a esta pergunta, baseada numa “mini” gramática online, diz que sim. Mas eu creio que já vi sujeitos separado do verbo por vírgula quando o sujeito é longo. Vejamos o seguinte exemplo:

A razão por que não quero ir só a mim diz respeito.

Eu estaria tentado a inserir uma vírgula nesta frase. Até porque, tal como está, a frase é ambígua. Não sabemos se o sujeito é “a razão por que não quero ir” ou “a razão por que não quero ir só. Na fala, a ambiguidade é desfeita por um ligeira pausa; e será também desfeita na escrita se marcarmos a pausa por vírgula:

A razão por que não quero ir, só a mim diz respeito.

A razão por que não quero ir só, a mim diz respeito.

Estas vírgulas são permitidas? Em que casos, se é que existem, é permitido separar o sujeito do verbo por vírgula? Naturalmente, não estamos a pensar em apostos ou orações explicativas intercaladas e isoladas por vírgulas, como “o João, o meu colega, também vem” ou “essa explicação, que não é nova, é enganosa”.

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  • Em hipótese alguma, é permitida a separação do sujeito + verbo. A vírgula após o verbo "ir" parece-me correta. A razão por que não quero ir, ao meu ver, é a oração subordinada substantiva subjetiva do verbo dizer. A frase também pode ser escrita da seguinte forma: A razão por que não quero ir diz respeito somente a mim. Commented Dec 20, 2018 at 19:02
  • Quem quiser conhecer melhor os candidatos a vereador, prefeito e vice-prefeito nas eleições deste ano (sujeito) [não separa sujeito do verbo] conta (verbo) com uma ferramenta virtual desenvolvida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Fonte do Exemplo: www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/redacao-e-estilo/estilo/… Commented Dec 20, 2018 at 19:04
  • @Valdeir, no teu primeiro comentário, queres dizer "parece-me incorreta", não? Pelo tom geral do comentário... Pelos vistos (vê resposta do Artefacto), estas vírgulas são permitidas ou mesmo recomendadas por pelo menos alguns gramáticos. Naturalmente, não sendo obrigatórias, o Senado pode preferir não as usar.
    – Jacinto
    Commented Dec 21, 2018 at 12:51
  • O "hipótese alguma" foi um exagero, reconheço isso (até então eu desconhecia a regra do Bechara). Entretanto é uma regra tradicional (não separar o sujeito do verbo). Pesquisei mais a fundo e encontrei uma afirmação do professor Luiz A. Sacconi: Em orações substantivas com função de sujeito iniciadas por quem, a vírgula entre tal oração e o verbo da principal é facultativa. Porém, o professor Fernando Pestana afirma: Os demais gramáticos nada falam sobre isso, logo deduzimos que não pode haver vírgula entre sujeito e verbo. Commented Dec 21, 2018 at 14:52
  • @Valdeir, quer-me parecer que há gramáticos que querem elevar certos princípios a uma espécie de lei divina, e não admitem exceções nem mesmo quando exista justificação para ela, como um vírgula entre o sujeito e verbo que facilite a leitura. Já me deparei com uma atitude dessas quando consultei o Ciberdúvidas a propósito de "um terço das mulheres está grávida", que viola a concordância gramatical; podes ver o que se passou nesta pergunta.
    – Jacinto
    Commented Dec 23, 2018 at 22:57

1 Answer 1

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Não, não é sempre proibido. No caso da tua frase, não creio que haja ambiguidade (a leitura em que modifica ir dá origem a uma ordem estranha nos constituintes da frase matriz), mas a vírgula certamente ajuda a ler a frase.

Cláudio Moreno tem um artigo precisamente sobre este assunto. A ideia fundamental é a de que a pontuação deve ajudar à descodificação da frase:

Não se trata, aqui, de voltar àquela antiga visão de pontuação subjetiva, submetida ao simples capricho de quem escreve; bem pelo contrário: a finalidade exclusiva dos sinais de pontuação é orientar o leitor no trabalho de decodificar as frases que escrevemos.

Em particular:

O princípio geral é muito simples: como devemos reservar a vírgula para assinalar tudo aquilo que foge à normalidade sintática, é evidente que não há razão para separar o sujeito do verbo, nem o verbo de seu complemento, já que esta é a ordem canônica da frase no Português. Todavia, quando o sujeito for oracional (representado por uma oração subordinada substantiva), os bons escritores empregam, muitas vezes, uma vírgula para assinalar com maior clareza o fim do bloco do sujeito.

E identifica três casos em que a vírgula é recomendada ou mesmo indispensável:

  • construção paralela, em que o verbo da oração substantiva é seguido imediatamente pelo verbo da oração principal: “Quem quer, faz; quem não quer, manda”
  • se o verbo for idêntico nas duas orações, esta vírgula passa a ser indispensável: “Quem deu, dará; quem pediu, pedirá”. “Quem vai, vai; quem fica, fica”
  • casos em que a forma verbal pode se confundir com um substantivo homógrafo, criando-se uma ambigüidade que a vírgula desmancha imediatamente: “Quem quiser, peça”

No mesmo sentido vai Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa:

Vírgula – Emprega-se a vírgula:
[...]
h) para separar, quase sempre, as orações adjetivas restritivas de certa extensão, principalmente quando os verbos de duas orações diferentes se juntam [...]

Observação: Esta pontuação pode ocorrer ainda que separe por vírgula o sujeito expandido pela oração adjetiva:

Os que falam em matérias que não entendem, parecem fazer gala da sua própria ignorância

Este último exemplo (onde a vírgula é recomendável por termos os dois verbos de seguida) está mais perto da tua frase do que os de Cláudio Moreno, porque enquanto o último dá apenas exemplos com subordinadas substantivas relativas (sem antecedente expresso), na tua frase há precisamente uma oração adjetiva relativa restritiva separada por vírgula (os que não é um morfema relativo, embora aqui até pudesse ser substituído por quem).

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  • De facto, nem me tinha lembrado de "quem sabe, sabe" e coisas do tipo. Sim, a frase que primeiro me veio à cabeça, foi "a razão por que não quero ir, só a mim diz respeito". Dizes que "...ir só, a mim diz respeito" gera uma ordem estranha porquê? É simplesmente por nós esperarmos naturalmente "só a mim diz respeito" e não apenas "a mim diz respeito"?
    – Jacinto
    Commented Dec 21, 2018 at 12:40
  • @Jacinto porque nesse caso o objeto indireto viria antes do verbo. O mais normal seria a razão por que não quero ir só, diz-me respeito (é) a mim. ou uma clivada-Q com é a mim a quem diz respeito por que razão não quero ir só. Com um significado diferente, podias usar uma topicalização/deslocação à esqda clítica: a mim, diz(-me) respeito a razão por que não quero ir só.
    – Artefacto
    Commented Dec 21, 2018 at 14:27
  • O objeto direto vem antes do verbo nos dois casos: "...ir, só a mim diz..." ou "ir só, a mim diz". Evidentemente, que te soa mais normal a ti não soa a mim. Nada contra as tuas reformulações, mas eu tenderia nos dois casos ("...ir, só a mim..." ou "...ir só, a mim...") a puxar o "a mim" para a esquerda. A reforçar, diria "a razão por que não quero ir só, é a mim que diz respeito".
    – Jacinto
    Commented Dec 22, 2018 at 8:34
  • @Jacinto, no teu último exemplo, a vírgula após , não o tornaria sinônimo de sozinho, enquanto a vírgula antes do , tornaria-o sinônimo de somente? Commented Dec 23, 2018 at 4:55
  • @Valdeir, é isso mesmo. Na verdade, eu tendo a dizer "ir sozinho" mais do que "ir só".
    – Jacinto
    Commented Dec 23, 2018 at 9:45

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