Decididamente, você não é sujeito desse parece. Vejamos:
Parece que você cometeu um erro
Parece que vocês cometeram um erro
Parece que nós cometemos um erro
O verbo parecer continua na terceira pessoa do singular quando trocamos você por vocês ou nós, em vez de passar a parecem e parecemos. Logo, você, vocês e nós são apenas os sujeitos das orações subordinadas a itálico (o verbo cometer concorda sempre com eles) mas não da subordinante, que fica sempre parece.
Agora, acerca do sujeito doparece não há consenso entre os gramáticos. O Ciberdúvidas tem até um artigo apontando as duas posições. A posição dominante é que o sujeito é a oração subordinada (em itálico), mas há quem defenda que este parecer é impessoal, e que a oração subordinada é antes um complemento direto. Comecemos pela última. José Neves Henriques no Ciberdúvidas apresenta o seguinte exemplo (formatação minha, com a oração subordinante em letra normal e a subordinada em itálico, tal como acima):
Parecia que as certezas eram incertas
Diz ele que o verbo parecer é aqui impessoal, portanto sem sujeito. Sandra Tavares (Ciberdúvidas) acrescenta que nos seguintes exemplos a oração subordinada é complemento direto do verbo parecer:
Parece que estes homens são magnatas
Parece-me que estou ouvindo S. Mateus
Comparemos com um exemplo incontroverso: em “eu vi que elas chegaram”, a oração subordinada é complemento direto de “vi”; é como “eu vi isso”, em que “isso” = “que elas chegaram”. Mas Vergílio Dias (Ciberdúvidas) afirma que parecer não admite complemento direto, e que a oração subordinada é sujeito do verbo parecer.
Vejamos antes um exemplo incontroverso: em “consta do relatório que elas chegaram”, “que elas chegaram” é sujeito do verbo constar (“isso consta do relatório”)
Regina Rocha (Ciberdúvidas) também diz a oração subordinada é sujeito de parecer, e cita vários gramáticos consagrados que têm também essa posição. Eis os exemplos deles (todos dizem que a oração subordinada, em itálico, é o sujeito do verbo parecer):
Parece que tudo vai bem (Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, 2003)
Parece que vamos ter um belo dia de sol […] (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984)
Não vos parece que é terrivel cousa ser a morte momentânea? (Epifânio da Silva Dias, Syntaxe Historica Portuguesa, 1916).
Esta abordagem causou-me alguma estranheza. Numa frase como “João parece contente” temos sujeito (“João”) e predicativo do sujeito (“contente”). Portanto eu esperaria que parecer tivesse sempre um predicativo do sujeito. Mas nestas frases com parece + oração subordinada, se a oração subordinada é o sujeito de parece, então fica simplesmente “isso parece” (em que “isso” é por exemplo “que tudo vai bem”). Mas então isso parece o quê? era a minha interrogação. Uma solução é reinterpretar parecer nesta nestas frases. Eis o que diz Regina Rocha a propósito de “Parece-me que estou ouvindo S. Mateus”:
O verbo parecer não é classificado como verbo impessoal (como, por exemplo, o verbo haver ou o verbo chover), pelo que não se pode considerar a existência de um sujeito nulo expletivo, havendo necessidade de se conceber um sujeito. E o sujeito está lá: estar a ouvir S. Mateus afigura-se-lhe, surge como algo que parece ser verdade. Aliás, o verbo parecer no sentido de «afigurar-se-lhe», «surgir como uma hipótese verdadeira aos olhos de alguém», «ser (algo) verosímil», «ser (algo) provável» (que é o significado com que surge na frase apresentada) tem subentendido um predicativo do sujeito: «estar a ouvir S. Mateus parece *verdade», «parece-me verdade (certo, real) que estou ouvindo S. Mateus», «isso parece verdadeiro», «isso parece real».