Antes de mais, parece-me que uma frase como
nem repara em que o envelope foi trocado e anuncia "La La Land"
seria até um tanto estranha. Que o uso de reparar no sentido de notar, observar seguido de uma oração subordinada se faz quase sempre sem em é evidente (por exemplo, no corpus CETEMPúblico, há uma ocorrência com em por cada 500 sem a preposição).
Também há é quem defenda que a preposição em está oculta. Sobre o assunto tem Francisco Fernandes uma nota no seu Dicionário de Verbos e Regimes (45ª ed.):
Nota: Repugna aos grámáticos admitir como transitivo o verbo reparar nesta acepção. Para eles, em frases como repare que ele é prestigiado — não reparou que o seguiam, está subentendida a preposição em, assim: repare (em) que ele é prestigiado — não reparou (em) que o seguiam. Penso, entretanto, que o complemento verbal é francamente direto, e reparar aí vale o mesmo que ver, notar, observar, atentar em.
Seguem-se vários exemplos da literatura com orações subordinadas completivas e continua a nota com:
E, para terminar, estes dois exemplos de Vieira, onde é evidente a ausência do elemento prepositivo, claro ou oculto: "Coisa é muito digna de reparar, que tendo Catela há pouco anos dois infantes varões, hoje não tem nenhum." (Vieira, Sermões, VIII, 62.) "Mas é muito de reparar o tempo e a circunstância em que Cristo efetivamente socorreu aos Apóstolos." (Idem, ibidem, 74.)