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Pelo que sei, reparar tem duas regências na Norma Culta:

1) reparar em (notar, observar, prestar atenção)
Não repara na bagunça!

2) reparar TD (consertar, indenizar)
Ele reparou o computador.

Porém, parece que quando a primeira regência for usada com que, omite-se o em, como mostram estes exemplos da Folha de São Paulo:

  • Rubem Alves, educador e psicanalista, repara que os professores não falam sobre seus alunos.
  • nem repara que o envelope foi trocado e anuncia "La La Land"
  • Ela repara que a consistência dos pingos é diferente

Isto é correto num registro formal? E se for, é a palavra que que causa este fenômeno?

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    Há uma discussão interessante sobre a omissão da preposição em orações subordinadas tanto nas objetivas indiretas quanto nas completivas nominais onde pessoas apontam o fenômeno inclusive em outras línguas. Não sei se esse tipo de elipse da preposição tem um nome. A discussão supracitada está em forum.wordreference.com/threads/… Commented Nov 8, 2018 at 10:33

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Antes de mais, parece-me que uma frase como

nem repara em que o envelope foi trocado e anuncia "La La Land"

seria até um tanto estranha. Que o uso de reparar no sentido de notar, observar seguido de uma oração subordinada se faz quase sempre sem em é evidente (por exemplo, no corpus CETEMPúblico, há uma ocorrência com em por cada 500 sem a preposição).

Também há é quem defenda que a preposição em está oculta. Sobre o assunto tem Francisco Fernandes uma nota no seu Dicionário de Verbos e Regimes (45ª ed.):

Nota: Repugna aos grámáticos admitir como transitivo o verbo reparar nesta acepção. Para eles, em frases como repare que ele é prestigiadonão reparou que o seguiam, está subentendida a preposição em, assim: repare (em) que ele é prestigiadonão reparou (em) que o seguiam. Penso, entretanto, que o complemento verbal é francamente direto, e reparar aí vale o mesmo que ver, notar, observar, atentar em.

Seguem-se vários exemplos da literatura com orações subordinadas completivas e continua a nota com:

E, para terminar, estes dois exemplos de Vieira, onde é evidente a ausência do elemento prepositivo, claro ou oculto: "Coisa é muito digna de reparar, que tendo Catela há pouco anos dois infantes varões, hoje não tem nenhum." (Vieira, Sermões, VIII, 62.) "Mas é muito de reparar o tempo e a circunstância em que Cristo efetivamente socorreu aos Apóstolos." (Idem, ibidem, 74.)

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  • Agradeço-lhe a resposta detalhada!
    – Akitirija
    Commented Nov 14, 2018 at 17:36
  • Também estranharia o em nessa frases. Então, "reparaste em se o vizinho já chegou a casa", ainda pior. Na tua primeira citação, entretanto ("Penso, entretanto, que o complemento [...]") significa 'no entanto', não? Tive que ler aquilo várias vezes para atinar com o sentimento do senhor.
    – Jacinto
    Commented Nov 14, 2018 at 18:28
  • @Jacinto Sim, isso mesmo. Significado 3 do priberam.
    – Artefacto
    Commented Nov 15, 2018 at 2:20

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