Sim, pelo menos em Portugal, verbos como imaginar, acreditar, crer, achar, julgar e pensar (no sentido ‘achar’) podem selecionar quer o indicativo quer o conjuntivo (subjuntivo é o termo preferido no Brasil). Basicamente a diferença é que, por exemplo, penso que ele está em casa indica maior convicção de ele estar em casa do que penso que ele esteja em casa.
Esta distinção vem descrita na Gramática do Português da Gulbenkian (Lisboa, 2013). Esta é uma gramática descritiva do português europeu; nunca me apercebi que haja neste ponto diferença no português do Brasil, mas não ponho as mãos no fogo. Citando a Gramática (tomo I, p. 679-80):
Há ainda um grupo de predicados epistémicos que admitem o indicativo ou o conjuntivo. É o caso de verbos como acreditar, admitir, imaginar, entre outros, e de nomes como hipótese, ideia, ou suspeita:
(21) a. Acredito que existiu vida em Marte.
b. Acredito que tenha existido vida em Marte.
[…]
Nesses casos, a seleção do modo conjuntivo ou do modo indicativo é acompanhada por uma diferença de interpretação. A frase (21a), com indicativo, indica um valor forte de crença, enquanto (21b), com conjuntivo, indica um grau fraco de crença. Assim, (21a) tem um significado semelhante a (23a) e o significado de (21b) aproxima-se do de (23b) […]
(23) a. Estou convencido de que existiu vida em Marte.
b. Não excluo a possibilidade de ter existido vida em Marte.
A Gramática volta a explicar a mesma distinção no capítulo sobre subordinação finita (tomo II, p. 1843).
Estes verbos quando negados normalmente selecionam o conjuntivo (não acredito que ele esteja em casa), mas podem também selecionar o indicativo. Voltando à Gramática (tomo II, p. 1844):
(92) a. O Paulo não acredita que o filho ganhou a lotaria.
b. O Paulo não acredita que o filho tenha ganho a lotaria.
O que distingue (92a) de (92b) é grau de certeza do locutor (e não do sujeito da oração subordinante) na veracidade da oração completiva. Quando é usado o modo indicativo, existe a inferência que o locutor acredita (ou sabe) que a proposição complemento é verdadeira.
Quanto à lógica deste uso, a Gramática (tomo I, p. 680) oferece o seguinte esquema geral:
Posto isto, verifica-se que os predicados epistémicos podem estar associados a diferentes graus de crença, formando uma escala. Os que expressam valor forte de crença selecionam o indicativo [eu sei que ele está em casa], os que estão associados a um valor fraco selecionam o conjuntivo [duvido que ele esteja em casa] e os que estão associados a valores intermédios admitem o indicativo ou o conjuntivo, dependendo a seleção de um ou outro modo do grau de crença veiculado em cada frase.
A Gramática inclui o verbo imaginar neste grupo de verbos associados a valores intermédios, mas eu pessoalmente, provavelmente influenciado pelo que ouço à minha volta, tendo a usar imaginar para exprimir valores fracos de crença, e prefiro imaginar com o conjuntivo: imagino que ele esteja em casa; quando o meu grau de convicção aumenta eu mudo para creio que ou penso que. Uso o indicativo é em frases negativas como:
Ela não imagina sequer que o marido a engana.
Como explica a gramática, eu aqui indico que estou convicto que o marido a engana. Se eu ouvisse, ela não imagina que o marido a engane, eu entenderia que o locutor não se compromete com a veracidade de o marido engana-a.
Não é surpreendente que haja nas preferências entre indicativo e conjuntivo diferenças entre o português e as línguas irmãs, pois até as há entre o português atual e o português do passado. Atualmente dizemos talvez abuse da tua paciência, mas há pouco mais de um século Machado de Assis escrevia, possivlemente já com um certo sabor arcaizante, “talvez abuso” (vê esta pergunta). E atualmente correntemente dizemos, como estava cansado, sentou-se; no passado era muito mais comum dizer-se como estivesse cansado, sentou-se; embora ainda se encontre esta construção com o conjuntivo ocasionalmente na literatura e imprensa recentes em Portugal, ela é tão rara ao ponto de causar estranheza (vê esta pergunta).