As gírias chupista e chupim, respectivamente de Portugal e Brasil, possuem significados ligeiramente similares, assim como o radical chup-.
Elas possuem a mesma origem? Ou é apenas coincidência?
Portuguese Language Stack Exchange is a question and answer site for linguists, teachers and learners wanting to discuss the finer points of the Portuguese language. It only takes a minute to sign up.
Sign up to join this communityAs gírias chupista e chupim, respectivamente de Portugal e Brasil, possuem significados ligeiramente similares, assim como o radical chup-.
Elas possuem a mesma origem? Ou é apenas coincidência?
As etimologias são diversas: chupim vem do tupi xo’pi (Houaiss, Lisboa, 2002); Chupista vem de chupar, que embora tendo origem incerta, está atestado em português no século XV e em espanhol no XIII, portanto demasiado cedo para virem do tupi.
Chupim (Aulete) ou chopim (alternativa menos recomendável segundo o dicionário Houaiss) é um pássaro brasileiro que, tal como o cuco no Velho Mundo, pões os ovos em ninhos de aves de outras espécies, para que estas os choquem e lhes criem os filhotes. Inspirando-se nestes pássaros, a linguagem popular passou também a chamar chupim ao marido que vive à custa da mulher. Esta é pelo menos a opinião de vários autores, começando com Monteiro Lobato em 1919:
Monteiro Lobato, “Romance do Chopim”, Cidades Mortas, São Paulo, 1921 [1ª ed. 1919], p. 68.
Esta é primeira referência que eu encontrei a chupim nesta aceção, embora este chupim fosse diferente do que eu imaginava: vivia às custas da mulher, mas aparentemente era também um fraco, e ela é que vestia calças. Para designar simplesmente o pássaro, as ocorrências mais antigas que encontrei são de 1863 (para chupim) e 1876 (chopim), ambas anteriores às indicadas no Houaiss.
Agora, eu não excluiria a possibilidade de chupar, ou mesmo chupista, terem influenciado o sentido figurado de chupim, uma vez que chupar é no português uma palavra bem mais antiga, mesmo nas aceções figuradas relevantes. O significado original de chupar parece ser ‘sugar’. As aceções figuradas ‘exaurir, esgotar (riquezas)’ (presente em dicionários antigos) e ‘explorar, aproveitar-se (de alguém)’ (Aulete 7 e 9) já estão presentes nas obras de autores do século XVI (Fr. Amador Arraes, Jorge Ferreira de Vasconcellos; ver referências no dicionário de Moraes Silva de 1858).
Chupista (Aulete) está atestado na aceção de bêbado em 1803 (Houaiss) e de “o que vive à custa alheia” no dicionário de Eduardo Faria de 1849. Neste livro de 1870 atribui-se “chupista de dinheiro e de tolinas” a Bocage, que morreu em 1805, mas eu não sei se a autoria de Bocage é genuína.
Veio-me primeiro à ideia que as aceções figuradas de chupar se inspirassem nos bebés, que só chupam (além de sujar fraldas). Tanto que em Portugal também se chama a esse comportamento parasítico andar à mama (Priberam). Mas existem outras possibilidades: desde há muito que se diz que insetos, morcegos, etc. chupam o sangue. Por exemplo, encontramos na obra de Francisco Manuel de Mello (1608-66) temos uma referência a sanguessugas que nos chupam o sangue.
Entretanto, quanto à origem de chupar é que há menos certezas. O dicionário Houaiss (Lisboa, 2002) diz que é provavelmente de origem onomatopaica, opinião partilhada pelo dicionário da Real Academia Española em relação ao chupar espanhol. Antenor Nascentes (Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa) sugere que seja “forma dissimilada de chuchar”, a que foram propostas várias origens latinas (página anterior do dicionário). A. Coelho, mencionado por Nascentes, diz que chupar tem a mesma origem que o francês antigo souper (‘sorver’) e o inglês sip (‘bebericar’) e sup (‘beber’). E isto remete-nos para o proto-germânico *supanan (ver sip e especialmente sup no Etymoline), que deu origem também a várias palavras parecidas noutras línguas germânicas, e que teria vindo de uma raiz protoindo-europeia de onde teria vindo também o latim sugere, que deu origem ao português sugar