Andei pesquisando gramáticas dos séculos 16 ao 19 em busca de comentários sobre a grafia do artigo "hũa/huma" e sobre sua realização vocálica /ũ(w̃).a/
e consonantal /ũ.ma/
. A partir daqui usarei os termos "pronúncia vocálica" e "pronúncia consonantal" para referir às respectivas pronúncias possíveis dessa palavra.
Eis abaixo as citações relevantes que encontrei.
Tomei liberdade para transcrever o texto à ortografia e à pontuação atual, exceto que, para as transcrições ortográficas, marcadas entre ⟨chevrões⟩, mantive a grafia do autor; enquanto que substituí as transcrições fonéticas do autor, por transcrições no Alfabeto Fonético Internacional, marcadas entre /barras/
. Tomei liberdade também de inserir alguns parênteses, quando fez-se necessário explicar algo.
A primeira citação é «Orthographia, ou a arte de escrever, e pronunciar com acerto a lingua portugueza. Segunda edição. ¶164—165», pelo trasmontano Madureira Feijó em 1739 (primeira edição em 1734).

§ Como se há de pronunciar a palavra ⟨huma⟩
¶164 Entre pessoas sábias e doutas se altercou a dúvida (sobre) se esta palavra ⟨huma⟩ se havia de pronunciar ferindo com o ⟨m⟩ o ⟨a⟩, deste modo /u.ma/
; ou unindo o ⟨m⟩ ao ⟨hu⟩ e separando o ⟨a⟩, deste modo /ũ(w̃).a/
. E como a dúvida passa-se a teima, fui consultado para a decisão, e respondi que, por uso, se pronunciava do primeiro modo; mas que, pelo rigor da arte, se devia pronunciar do segundo por duas razões: a primeira é porque a palavra ⟨huma⟩ compõe-se de ⟨hum⟩ acrescentando a partícula ⟨a⟩, assim como ⟨boma⟩ (feminino de "bom", na época pronunciado como hiato nasal-oral /bõ(w̃).a/
, encontra-se também escrito como ⟨bõa⟩ em textos mais antigos), na opinião dos que a pronunciam com ⟨m⟩, compõe-se de ⟨bom⟩, acrescentando a partícula ⟨-a⟩ para o gênero feminino. E se ninguém pronunciaria /bo.ma/
ferindo com o ⟨m⟩ o ⟨a⟩, também não devemos pronunciar /u.ma/
ferindo do mesmo modo. O mesmo se vê na palavra ⟨alguma⟩, derivada de ⟨algum⟩, que melhor se pronuncia /algũ(w̃).a/
do que /algu.ma/
.
¶165 A segunda razão, a que não ouvi resposta, é que muitos, ou todos os que doutamente escrevem ⟨hũa⟩ e ⟨algũs⟩ com til por cima do ⟨u⟩, suprindo o m, mas assim é, que o til nunca fere na pronunciação alguma vogal, nem se pode pôr em lugar do ⟨m⟩ nas mais palavras, em que o ⟨m⟩ fere alguma vogal. Logo é certo que nas palavras ⟨huma⟩ e ⟨alguma⟩ o ⟨m⟩ não fere a vogal seguinte, e deve pronunciar-se /ũ(w̃).a, algũ(w̃).a/
, ou se escrevam com ⟨m⟩ ou com til.
Já por 1739 se discutia a pronúncia do artigo. O autor refere-se à pronúncia consonantal /u.ma/
como sendo a pronúncia popular pelo uso; enquanto que a pronúncia vocálica /ũ(w̃).a/
é a pronúncia dos "doutos" pelo rigor da arte. Ele compara com a pronúncia de "boa" (na época "bõa") que sofria do mesmo problema: um hiato nasal-oral com ambiguidade na grafia e pronúncia, ambiguidade essa que hoje não mais existe, já que /õ(w̃).a/
deixou de ser um hiato nasal (da mesma forma que "lua" deixou de ser "lũa").
A segunda citação é «Orthographia da Lingua Portugueza ¶290», pelo tipógrafo português Joaquim José Ventura da Silva em 1834:

§ Lição III. Do Til e seu uso
[...]
¶290. As palavras ⟨huma, alguma, nenhuma⟩ podem-se escrever ⟨hũa, algũa, nenhũa⟩, porque o ⟨m⟩ não fere a vogal ⟨a⟩, por serem estas palavras compostas de ⟨hum, algum, nenhum⟩ acrescentando-lhes a partícula ⟨-a⟩: donde se segue, que o ⟨m⟩ nestas palavras soa com a vogal antecedente, e não com a subsequente, e por isso é que se podem escrever com til porque este nunca fere a vogal.
Esta citação é mais breve, mas dela pode-se deduzir que em 1834, um ano após a publicação da citação anterior, a pronúncia vocálica ainda existia.
A conclusão é que ambas as grafias ⟨hũa⟩ e ⟨huma⟩ coexistiram na língua durante um bom tempo até que a forma arcaica passasse a ser usada por escritores mais conservadores, culminando com seu desuso total.
A medida que eu encontrar novas citações relevantes, editarei esta resposta. Também listarei em anexo os dicionários da época que listavam ambas as formas como possíveis.