Na verdade é Anto, com letra grande, como se pode ver na página de Facebook da banda. A letra da canção combina os poemas “Gosto da cidade” e “Marianna e Chamily” de Adília Lopes (Wikipédia e Facebook). Anto é o único substantivo com inicial maiúscula no poema:
Gosto da cidade
E da publicidade
Gosto do campo
E do Anto
[…]
Este Anto refere-se provavelmente ao poeta português António Nobre (1867 – 1900, Wikipédia). Ele foi ainda em adolescente alcunhado de Anto, redução de António, por uma preceptora inglesa sua. Ele assumiu a alcunha, e o seu mais famoso livro, Só (1892), fecha com o poema “Males de Anto”. O poema tem como subtítulo “A ares numa aldeia” e está cheio de imagens campestres, daí talvez a ligação ao “campo” nos versos da canção, “Gosto do campo / E do Anto”. Que o Anto nos “Males de Anto” é o próprio autor não há duvida: no poema ele refere-se a si mesmo uma vez por António, outra por Anto. E já quanto tuberculoso, ele escreveu:
Deus castigou-me. Quando era feliz e apenas tinha arranhaduras dos 19 anos, escrevia os Males de Anto, exagerando tudo. Agora é que eu os sinto, depois de os ter expresso em literatura.
Mais tarde, Mário de Sá-Carneiro (Wikipédia) escreveu “Anto” (1915), um poema de homenagem a António Nobre. Tudo isto e mais em “O Enigma de Anto”, jornal Publico, 18-03-2000. Existe também em Coimbra a Torre de Anto (Wikipédia). A torre já vem da muralha medieval, mas passou a chamar-se assim depois e por causa de o poeta lá morar nos seus tempos de estudante.
Nos dicionários aparecem apenas os elementos compositivos ant(o)- (antepositivo), -ant(o)- (interpositivo) e -anto (pospositivo), já que o outro Anto é nome próprio. Explica o Houaiss (Lisboa, 2003) que ant(o) vem do grego ánthos,eos-ous, significando ‘rebento, broto, flor’ e por isso também ‘erupção’. Não é uma palavra em sim mesma, mas entra na composição de palavras, como antologia, antúrio, aperiantáceo ou agapanto.