Diz-se que algo é “para inglês ver” se for só fachada para causar boa impressão. Como por exemplo neste artigo no Diário de Notícias (3-9-2016), um jornal português:
Ministro recusa investigações para “inglês ver”
O artigo refere-se a investigações sobre a morte de dois comandos em exercícios militares. Investigações “para inglês ver”, que o ministro alegadamente recusa, seriam só uma fachada para apaziguar o público, sem intenção de verdadeiramente apurar responsabilidades.
Eu sempre pensei que a expressão tivesse nascido de coisas feitas só para impressionar turistas ingleses em Portugal, e nem sabia se era usada no Brasil. Mas no outro dia descobri que não só é usado no Brasil, como provavelmente foi lá que teve origem. A hipótese mais aceite é que a expressão nasceu da lei Feijó de 1831, que proibia e punia o tráfico de escravos para o Brasil. A lei teria sido aprovada apenas para satisfazer pressões britânicas, e sem qualquer intenção de que viesse a ser aplicada. Neste site da Prefeitura do Rio de Janeiro diz-se:
Comentava-se na Câmara dos Deputados, nas casas e nas ruas, que o Ministro Feijó fizera uma “lei para inglês ver”.
Este artigo na Veja (17-2-2014) acrescenta duas outras hipóteses, recolhidas pelo filólogo Antenor Nascentes. Uma é que os ingleses no Pernambuco se vestiam de linho; quando os pernambucanos, em vez da habitual casimira, vestiam também linho, dir-se-ia que o faziam “para inglês ver”. A outra foi que D. João VI ao chegar à Bahia em 1808 escoltado pela armada britânica, vendo do barco a bonita iluminação da cidade (Salvador?), teria comentado que “está bem bom para o inglês ver”.
Ora para variar, há uma hipótese, a da lei antiesclavagista, que me parece altamente plausível. A maioria dos sites que visitei nem menciona outra. O que é frustrante é que nenhum dos sites que encontrei cita fontes antigas, para já não falar de contemporâneas da lei, ficando-se sem saber como é que se sabe que a expressão nasceu aí.
Portanto o que eu quero saber é quais são os dados concretos sobre a origem da expressão, nomeadamente:
- Quais são os exemplos mais antigos de uso da expressão em Portugal e no Brasil? Esses exemplos dão-nos alguma indicação acerca de qual terá sido a origem da expressão? Favorecem alguma das hipóteses anteriores?
- Encontram-se alguns comentários antigos sobre a origem da expressão? Por exemplo, testemunhos de alguém que se lembra de a ouvir neste ou naquele contexto já em tempos recuados; ou de ouvir a avó ou avô contar que a tinha ouvido?