Tenho dúvidas sobre a formação de verbos com mais de uma palavra.
Por exemplo:
- não dizer nada;
- gostar de dançar;
- criar um filho;
Os exemplos acima são verbos ou podemos classificá-los como tendo outra função gramatical?
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Sign up to join this communityTenho dúvidas sobre a formação de verbos com mais de uma palavra.
Por exemplo:
Os exemplos acima são verbos ou podemos classificá-los como tendo outra função gramatical?
Esta pergunta, na verdade, é sobre funções sintáticas, e não sobre classes gramaticais.
Na língua portuguesa, verbos são constituídos de uma única palavra (às vezes, seguida de um pronome, como em rir-se ou tratar-se). Quando uma ação usa mais de um verbo, chamamos de locução verbal, composta de um verbo auxiliar (geralmente ser/estar/ter/haver/ir) e um ou mais verbos no infinitivo, particípio ou gerúndio:
Ainda estou pensando se sairei esta noite.
As crianças têm sido deixadas de lado pelos pais.
Os exemplos que você citou não são locuções verbais, porém. São predicados: verbos propriamente ditos, acompanhados de conjuntos de palavras de outras classes gramaticais (substantivos, artigos, advérbios, outros verbos) que desempenham funções sintáticas complementares ou subordinadas aos verbos. Tomando a liberdade de fugir um pouco da função gramatical:
não dizer nada
"não" é da classe gramatical advérbio e desempenha a função sintática complemento adverbial;
"dizer" é da classe gramatical verbo e desempenha a função sintática núcleo do predicado;
"nada" é da classe gramatical pronome e desempenha a função sintática objeto direto.
gostar de dançar
"gostar" é da classe gramatical verbo e desempenha a função sintática núcleo do predicado;
"de" é da classe gramatical preposição e desempenha a função sintática adjunto adnominal (apesar de "dançar" ser um verbo!);
"dançar" é da classe gramatical verbo e desempenha a função sintática objeto indireto. Aqui é que fica complicado: como "dançar" é um novo verbo independente do anterior, ele define uma nova oração, composta somente por ele mesmo. Nesta nova oração, ele é o núcleo do predicado. Como esta nova oração serve de objeto indireto ao verbo "gostar", uma função geralmente reservada aos substantivos, dizemos que ela é subordinada substantiva objetiva indireta.
criar um filho
"criar" é da classe gramatical verbo e desempenha a função sintática núcleo do predicado;
"um" é da classe gramatical artigo e desempenha a função sintática adjunto adnominal;
"filho" é da classe gramatical substantivo e desempenha a função sintática núcleo do objeto direto.
Então, respondendo à pergunta: não, eles não são verbos, eles são predicados, ou seja, são verbos acompanhados de palavras que lhes completam o sentido.
Uma coisa não dita na resposta do @Ramon é que nenhuma das frases nos exemplos dados constitui uma oração bem formada.
Para uma oração ser bem formada ela tem que ter um sujeito e um predicado.
Nenhuma das frases dos exemplos contém um sujeito, nem sequer um predicado, como o @Ramon sugeriu.
A razão é muito simples, a wikipédia explica:
Quando é um caso de oração sem sujeito, o verbo do predicado fica na forma impessoal, 3ª pessoa do singular. O núcleo do predicado pode ser um verbo significativo, um nome ou ambos.
Pondo esta regra em prática os exemplos dados pelo perguntador ficariam:
não disse nada;
gosta de dançar;
cria um filho;
Agora sim cada uma das orações, tem um predicado válido. Também é possível entender estas orações com sujeito nulo subentendido e o sujeito pode até ser diferente, consoante o contexto, veja-se:
(Eu, ele) não disse nada;
(Ele) gosta de dançar;
(Ele) cria um filho;
É possível construir orações com sujeito nulo subentendido para qualquer pronome pessoal:
Vou ao cinema
Vais ao cinema
Vai ao cinema
Vamos ao cinema
Ides ao cinema
Vão ao cinema