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Tenho dúvidas sobre a formação de verbos com mais de uma palavra.

Por exemplo:

  • não dizer nada;
  • gostar de dançar;
  • criar um filho;

Os exemplos acima são verbos ou podemos classificá-los como tendo outra função gramatical?

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  • 1
    Cada frase tem UM VERBO: dizer, gostar, criar. Não existe formação de verbo com mais de uma palavra. O que você colocou são frases inteiras.
    – Lambie
    Feb 1, 2017 at 0:16

2 Answers 2

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Esta pergunta, na verdade, é sobre funções sintáticas, e não sobre classes gramaticais.

Na língua portuguesa, verbos são constituídos de uma única palavra (às vezes, seguida de um pronome, como em rir-se ou tratar-se). Quando uma ação usa mais de um verbo, chamamos de locução verbal, composta de um verbo auxiliar (geralmente ser/estar/ter/haver/ir) e um ou mais verbos no infinitivo, particípio ou gerúndio:

Ainda estou pensando se sairei esta noite.

As crianças têm sido deixadas de lado pelos pais.

Os exemplos que você citou não são locuções verbais, porém. São predicados: verbos propriamente ditos, acompanhados de conjuntos de palavras de outras classes gramaticais (substantivos, artigos, advérbios, outros verbos) que desempenham funções sintáticas complementares ou subordinadas aos verbos. Tomando a liberdade de fugir um pouco da função gramatical:

não dizer nada

"não" é da classe gramatical advérbio e desempenha a função sintática complemento adverbial;

"dizer" é da classe gramatical verbo e desempenha a função sintática núcleo do predicado;

"nada" é da classe gramatical pronome e desempenha a função sintática objeto direto.


gostar de dançar

"gostar" é da classe gramatical verbo e desempenha a função sintática núcleo do predicado;

"de" é da classe gramatical preposição e desempenha a função sintática adjunto adnominal (apesar de "dançar" ser um verbo!);

"dançar" é da classe gramatical verbo e desempenha a função sintática objeto indireto. Aqui é que fica complicado: como "dançar" é um novo verbo independente do anterior, ele define uma nova oração, composta somente por ele mesmo. Nesta nova oração, ele é o núcleo do predicado. Como esta nova oração serve de objeto indireto ao verbo "gostar", uma função geralmente reservada aos substantivos, dizemos que ela é subordinada substantiva objetiva indireta.


criar um filho

"criar" é da classe gramatical verbo e desempenha a função sintática núcleo do predicado;

"um" é da classe gramatical artigo e desempenha a função sintática adjunto adnominal;

"filho" é da classe gramatical substantivo e desempenha a função sintática núcleo do objeto direto.


Então, respondendo à pergunta: não, eles não são verbos, eles são predicados, ou seja, são verbos acompanhados de palavras que lhes completam o sentido.

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  • Neste caso não e nada não formam um conjunto sintático qualquer? Afinal não disse nada não é a negação de disse nada.
    – Jacinto
    Jan 31, 2017 at 17:43
  • Coisas como rir-se, arrepender-se serão exceções à regra de o verbo ser formado por uma palavra só? O clítico não tem nenhum significado próprio nestes exemlos.
    – Jacinto
    Jan 31, 2017 at 17:47
  • @Jacinto Eu concordo sobre o "não dizer nada", mas achei que ficaria confuso demais para entender. Do jeito que ficou, já penso que a transição do assunto "classe gramatical" para "função sintática" não ficou das mais suaves. Como você sugeriria refrasear este trecho?
    – Ramon Melo
    Jan 31, 2017 at 17:57
  • @Jacinto Considero que estes verbos seriam uma palavra só (composta), mas acho válida a clarificação. Vou editar.
    – Ramon Melo
    Jan 31, 2017 at 17:59
  • @Jacinto Refletindo melhor aqui, não se consideraria o -se como um pronome oblíquo? Afinal, na flexão dos verbos e na colocação pronominal, ele se comporta como um: não me arrependo de ter-me rido durante a cerimônia.
    – Ramon Melo
    Jan 31, 2017 at 18:03
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Uma coisa não dita na resposta do @Ramon é que nenhuma das frases nos exemplos dados constitui uma oração bem formada.

Para uma oração ser bem formada ela tem que ter um sujeito e um predicado.

Nenhuma das frases dos exemplos contém um sujeito, nem sequer um predicado, como o @Ramon sugeriu.

A razão é muito simples, a wikipédia explica:

Quando é um caso de oração sem sujeito, o verbo do predicado fica na forma impessoal, 3ª pessoa do singular. O núcleo do predicado pode ser um verbo significativo, um nome ou ambos.

Pondo esta regra em prática os exemplos dados pelo perguntador ficariam:

não disse nada;

gosta de dançar;

cria um filho;

Agora sim cada uma das orações, tem um predicado válido. Também é possível entender estas orações com sujeito nulo subentendido e o sujeito pode até ser diferente, consoante o contexto, veja-se:

(Eu, ele) não disse nada;

(Ele) gosta de dançar;

(Ele) cria um filho;

É possível construir orações com sujeito nulo subentendido para qualquer pronome pessoal:

Vou ao cinema

Vais ao cinema

Vai ao cinema

Vamos ao cinema

Ides ao cinema

Vão ao cinema

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