Uma vez vi alguém utilizando a expressão textículo para se referir a um texto minúsculo.
Essa palavra realmente existe, ou é algo informal?
Uma vez vi alguém utilizando a expressão textículo para se referir a um texto minúsculo.
Essa palavra realmente existe, ou é algo informal?
Embora uma pesquisa rápida no Google tenha produzido 17.500 resultados, a palavra ainda não consta nos grandes dicionários como o Aurélio, por exemplo, e por esse ponto de vista é informal.
É possível que venha a ser incluída em um futuro próximo apesar da confusão que pode causar na língua falada por ser homófona de "testículo", e se for usada em um contexto não muito claro. Por exemplo: "eu trouxe um textículo para te mostrar".
ADDENDUM
Textículo em português e espanhol e texticule em francês e até em três ou quatro publicações em inglês têm sido usados em círculos literários, sobretudo para designar um texto literário breve ou de fraca qualidade, não uma mensagem deixada num post-it ou o texto num rótulo de uma garrafa. É uma palavra rara em todas as línguas. Em português aparece apenas em quinze livros no Google Books, e de oito dicionários em que procurei, encontrei-a apenas na Infopédia:
- texto breve, de dimensão reduzida
- texto pouco importante ou de fraca qualidade
Não encontrei a palavra em dicionários ingleses, nem no Larousse ou Real Academia Española. Agora, uma palavra não precisa de autorização do dicionário para existir: foi dita e entendida, logo existe. Textinho ou textito nem na Infopédia vêm. Heterocedasticidade também não, mas é uma palavra usada em análise estatística.
Estas palavras são usadas do mesmo modo em todas estas línguas e devem ter origem comum e influenciado-se mutuamente, pelo que a palavra portuguesa é melhor compreendida neste contexto internacional. Segundo Lauro Zavala, Cartografías del cuento y la minificción (2004) foi o argentino Julio Cortázar (1914-84) seguido mais tarde pelo mexicano José Agustín (1944-) quem propuseram o termo textículo para referirem “textos narrativos o poéticos muy breves (200 a 1000 palabras)”. Também o francês Michel Tournier (1924-2016) chamava texticules aos seus “pequenos textos onde ele exprime de forma frequentemente brincalhona as suas admirações por uma obra, artista […]” (Wikipédia, tradução minha)
Parece-me que a palavra foi intencionalmente brincalhona. Por um lado é de derivação culta: o sufixo -culo, tal como a sua variante -ulo, é típico de palavras que entraram na língua por via culta, sob a forma de importações tardias do latim, latinismos e neologismos científicos (Houaiss, Lisboa 2003, verbetes -culo e -ulo). Por outro lado a semelhança com testículo dá-lhe um tom brejeiro.
Por vezes é o autor que chama textículo ao seu próprio texto; creio que para sugerir brincalhona e modestamente que o que escreveu é de pouca importância. Por exemplo, Públio Athayde, em Articulando (2009) (ênfase minha em todas as citações):
Para situar os desavisados que lerem este textículo em tempos remotos, eis o fato: Adelir de Carli, padre católico, voou preso a balões e desapareceu no litoral de Santa Catarina na noite de domingo, 20 de abril de 2008.
Já Nuno Júdice em ABC da Crítica (2012) emprega textículo depreciativamente para se referir a crítica literária que ele acha sem grande valor. Também Francisco Carrasco, em Medíocre Florêncio, (2015) usa textículo depreciativamente:
Sentou-se e leu o que havia escrito naquele dia, tudo que parecera bom, agora lhe era simplesmente um textículo amador.
E encontrei um único exemplo, de 1946, o mais antigo em qualquer das línguas, (As Américas antes dos Europeus de Luís Amaral), em que textículo designa um trecho de texto numerado numa obra, à laia dos versículos da Bíblia.
[..] o Pop Buj refere a unidade de língua: “todos tinham uma só maneira de falar” (textículo 42 da Sétima Tradição) […] Refere-os o Popol Buj. Depois de descrever a confusão dos povos, diz a Sétima Tradição, no textículo 40: “Então […]
Quanto à informalidade, pelo que vi, parece-me que a palavra é mais informal que formal, mas ainda assim relativamente neutra. Mas para mim o seu valor acrescentado está precisamente no tom algo brincalhão e ligeiramente depreciativo. Simplesmente para referir em tom neutro a dimensão do texto já temos imensas opções: texto curto; escrevi umas linhas/uma nota sobre o assunto, etc. Na maior parte dos usos fora do Google Books, pareceu-me que o motivo do uso era sobretudo a semelhança com testículo, como explicitamente neste blog. Noutros caso, como neste outro blog, textículo é simplesmente o título do texto; para título genérico de um texto também já tínhamos imensas opções: crónica, história, historieta, reflexões, etc., só que não teriam a brejeirice de textículo.
Passa por vezes por aí a ideia que uma palavra é desaconselhável ou até errada. Isto é uma visão equivocada. O que há é palavras que são apropriadas à comunicação que o locutor quer estabelecer, e palavras que não o são. Por exemplo, inspirando-me na resposta do Centaurus, eu poderia dizer tenho um textículo para vos mostrar se quisesse gerar perplexidade e provocar riso ao mostrar o texto; já dizer num funeral ao cônjuge do morto preparei um textículo para ler não teria lá muita graça.
No português brasileiro, já ouvi tal textículo; usado em tom de brincadeira.
Até o corretor insiste em corrigir, este pensou que escrevi testículo, o trocadilho.
Encontrei a palavra somente no Infopédia, mas é difícil encontrar a flexão dos graus dos substantivos no dicionário. Isto reforça as variações e dúvidas sobre as palavras flexionadas.
Se fizer uma busca pelo trends, textinho é mais comum.
Geralmente a flexão de grau sintética (adicionando o sufixo), no caso do textículo ou textinho, poderá dar abertura para outras interpretações, já na analítica é mais difícil de ocorrer.
Acredito que na dúvida entre a informalidade ou formalidade da palavra, optar pela flexão de grau na forma analítica (adicionando um adjetivo), texto pequeno é mais segura. A abertura para outras interpretações não convém em um texto formal, onde precisamos passar mais clareza (e talvez até seriedade) na comunicação.
Se um dia a palavra ficar famosa, ela virará um futuro versículo, cartão, portão, seu significado estará em vários dicionários e poderemos usar com mais segurança.
Olá. A palavra "textículo" não existe em dicionários da língua portuguesa. Aqui no Brasil é considerado errado falar "textículo" para "texto pequeno", realmente consideramos que a palavra não existe, então não pode ser classificada como formal ou informal. Usamos "textinho" de modo informal e "pequeno texto" de modo formal.
Algumas pessoas com menor escolaridade podem falar "textículo" por falta de conhecimento, mas no geral é errado.
Tome cuidado para não confundir com a palavra homófona "testículo", que se refere a uma parte da estrutura genital masculina.
Espero que tenha ajudado :)