O objetivo principal do Acordo Ortográfico de 1990 foi unificar as grafias. Mas neste caso as palavras alteradas já antes tinham grafia igual em todos os países lusófonos, pelo que o motivo foi apenas simplificar as grafias. As palavras afetadas estão listadas abaixo (com links ao Priberam) na grafia antiga; na grafia do AO 90 escrevem-se todas sem acento:
pára (de parar) e para (preposição)
péla (‘bola’), péla, pélo (de pelar) e pela, pelo (contração de preposição com artigo)
pêlo (‘cabelo’) e pelo (contração de preposição com artigo)
pêra (fruto), péra (forma antiquada de pedra) e pera (preposição antiga)
pólo (vários substantivos) e polo (antigo; agora pelo, por o)
Um anexo da lei portuguesa do Acordo Ortográfico apresenta alguns princípios e motivos que orientaram as alterações. Acerca desta supressão, diz (ponto 4.1) que ela é coerente com a reforma de 1971 no Brasil e de 1945 em Portugal, as quais aboliram acentos diferencias em casos semelhantes; por exemplo os substantivos que na grafia anterior a essas reformas se escrevia (o) acôrdo e (o) acêrto, e que com a eliminação do acento passaram a ser homógrafos de (eu) acordo, (eu) acerto. Diz ainda que as palavras que se tornam homógrafas com a supressão destes acentos pertencem a classes gramaticais diferentes, o que facilita a identificação do seu significado.
No entanto, confusões são sempre possíveis. Houve aqui em Portugal quem facetamente apontasse que a frase seguinte fica agora ambígua:
Alto… e para o baile!
Na atual grafia isto tanto pode querer dizer ‘alto… e vamos para o baile’ ou ‘alto… e que pare o baile’. Quer-me parecer no entanto que não há motivo para grandes preocupações. A verdade é que mesmo na grafia pré-AO 90 estes acentos diferenciais (em paroxítonas) eram exceções entre as centenas de pares ou mesmo ternos de palavras homógrafas e homónimas sem acentos diferenciais, e que nós compreendemos sem problemas pelo contexto. Deixo aqui uns exemplos:
Era uma era turbulenta.
Sede vigilante: há uma grande sede de poder na sede do Partido Revolucionário.
Chama a ateia que ateia a chama.
Não cobres muito por esse cobre que já nada cobre.
Encontrei-o no caminho, quando vinha da vinha.
Disse-lhes que não vale a pena descer ao vale.
Mas eles vão. Em vão.
Mesmo de luto, luto.