Estas frases são semanticamente equivalentes:
(a) Eu disse para ele se calar
(b) Eu disse-lhe para (ele) se calar
(c) Eu disse-lhe que se calasse
Em (c) a frase em itálico é uma oração subordinada substantiva objetiva direta (OSSOD), introduzida pela conjunção que: que se calasse é o objeto direto de “disse” (comparar com “eu disse-lhe isso”). As frases em itálico em (a) e (b) também são OSSOD, só que infinitivas e introduzidas por para. (Mais sobre orações subordinadas substantivas.) Por analogia com o que de (c), eu seria tentado a classificar este para como conjunção. Porém os dicionários classificam para só como preposição. Mesmo o Dicionário da Academia de Ciências de Lisboa (2001), o único onde encontrei exemplos deste tipo de frases:
para¹ […] B. Funções gramaticais […] II. Antes de infinitivo. […] 2. Introduz frases infinitivas, sendo equivalente a uma frase completiva. Pediu para as pessoas não se atrasarem. (Pediu que as pessoas não se atrasassem.)
Porém Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, 2014, p. 731-2) diz:
A nova terminologia no ensino do português […] considera que algumas palavras tradicionalmente classificadas como preposições (como para em orações subordinadas substantivas completivas não finitas e em orações subordinadas adverbiais finais não finitas) são, na verdade, conjunções.
Note-se que Cunha e Cintra observam esta posição, mas parecem não a adotar. Nomeadamente, eles classificam como preposição o para em todo os exemplos de orações subordinadas que dão. Mas também é verdade que eles não dão qualquer exemplo do tipo das minhas frases acima.
Nós já temos esta pergunta sobre a diferença entre preposições e conjunções. Segundo a resposta que lá está, este para deveria ser uma conjunção, porque liga orações. Mas se este para aparece nos dicionários como preposição, o assunto é controverso. Quais são então os argumentos e critérios para classificar este para como preposição ou conjunção?