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É muito comum ver placas em metrôs ou estações de rede elétrica, aqui no Brasil, uma placa escrita "Risco de Morte", como no exemplo abaixo.

Risco de morte! Alta tensão

O engraçado é que, quando se trata de anunciar algo que queira passar a mesma ideia de "perigo, você pode morrer", usa-se o termo "Risco de Vida".

Inclusive tem um amigo meu costumava dizer: "Se é risco de vida, então não é risco. Porque vida é bom."

Veja:

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Entendo que essa placa quer dizer : "Se você chegar aqui perto, você tem alguma chance morrer, então tome cuidado".

Mas qual delas seria o correto? "Risco de morte" é bem claro, mas "Risco de vida" soa estranho, já que estamos querendo alertar alguém sobre a morte!

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  • 4
    Não sei o motivo, não tenho fontes confiáveis, mas a expressão é uma contração de "risco de perder a vida".
    – Maniero
    Commented May 17, 2016 at 13:41
  • @bigown faz muito sentido, mas a contração é engraçada Commented May 17, 2016 at 13:43
  • 3
    Interessante que não é "risco à vida".
    – Dan Getz
    Commented May 17, 2016 at 14:03
  • Antigamente na Globo eles anunciavam "risco de morte" ao se referir à alguém hospitalizado com chances de morrer ("o estado dele é gravíssimo e corre risco de morte"). Lá por 2002 eles trocaram por "risco de vida". Não sei o por quê da súbita troca. Commented May 17, 2016 at 20:06
  • Fala-se "risco de vida", mas é um encurtamento de "risco de perder a vida". Puristas não gostam da expressão pois a entendem literalmente. Commented May 18, 2016 at 12:10

3 Answers 3

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As duas expressões estão corretas e estão ambas em uso pelo menos desde o século XVI. A expressão risco de morte é mais fácil de analisar, pois podemos parafraseá-la por risco de morrer, enquanto risco de vida não é risco de viver. Mas risco de vida é logo o primeiro exemplo dado pelo dicionário Houaiss (abreviaturas desabreviadas):

1 risco s. m. 1 probabilidade de perigo, geralmente com ameaça física para o homem e/ou para o meio ambiente <risco de vida> <risco de infeção> <risco de contaminação>

Note-se que os outros dois exemplos seguem o modelo de risco de morte: risco de infeção é o risco de infetar, é o risco de contaminação é o risco de contaminar. Em risco de morte, risco de infeção e risco de contaminação, a preposição de introduz o tipo de risco, a ameaça a que se está sujeito.

Mas a preposição de é muito versátil, e em risco de vida podemos interpretá-la como exprimindo inerência, pertença: o risco na vida. A expressão risco de vida é assim análoga a fragilidade da vida. Se foi assim que os nossos antepassados pensaram, não sei dizer, mas encontramos no Corpus do Português a expressão risco de vida e outras semelhantes desde o século XVI. Na literatura, risco de vida é até mais comum, até ao presente, que risco de morte, e no fundo é isso, mais do que qualquer análise, que justifica a expressão. Exemplos:

[...] o próprio António de Saldanha correu risco de sua pessoa, por acudir a um homem, e não escapou dos negros, senão ferido em um braço. [João de Barros (1496-1570), Décadas da Ásia, Década Primeira]

[...] porque a dorida e lastimosa nova do principe ja ser morto, poderia ser que sabendo-a doutrem seria risco de suas vidas, lha quis dar primeiro que ninguem. [Garcia de Resende, Vida e feitos d'el-rey Dom João Segundo, 1533]

Onde estão os pobres homens, que transfegão pelo mundo com tanto risco de suas almas, & vidas? [Amador Arrais, Diálogos, 1589]

Há no entanto casos em que dificilmente se poderia substituir risco de morte por risco de vida, nomeadamente quando quantificamos o risco de morrer ou com risco de morte por [qualquer causa]:

Segundo os cientistas de a Universidade da Califórnia em San Francisco, o fumo passivo aumenta em 30% o risco de morte por doenças de o coração. [Folha de São Paulo, 1994]

As companhias de seguros utilizam estas tabelas de vida para fazer uma estimativa do risco de morte [Enciclopédia (Corpus do Português)]

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  • 1
    Eu acho que é uma simplificação de "risco de perder a vida". No hospital ninguém diz "Ele está em risco de morte" e sim "Ele está em risco de vida", foi só mais um exemplo.
    – Jorge B.
    Commented May 17, 2016 at 15:08
  • 1
    @JorgeB. Pode ser que seja. Mas nós econtramos bem cedo risco de sua pessoa, que é difícil de parafrasear em risco de perder a sua pessoa.
    – Jacinto
    Commented May 17, 2016 at 15:17
  • 2
    @JorgeB. Mas a expressão risco de perder sua vida encontra-se com frequência no século XVI.
    – Jacinto
    Commented May 17, 2016 at 15:22
  • 1
    Durante minha vida inteira eu só ouvia "risco de vida", até q alguém (provavelmente da Rede Globo) veio c/ essa história de q não tem como "correr risco de viver" e "risco de morte" começou a pipocar pra td qt é lugar. Commented May 19, 2016 at 2:51
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Comecemos por risco de morte. Esta expressão é parafraseável por risco de morrer, ou seja, probabilidade/possibilidade de morrer, sendo a principal diferença entre probabilidade e risco o facto de risco poder apenas ser usado com situações indesejáveis. O argumento de risco, introduzido por de, tem de representar um evento, mudança de estado, ou estado futuro indesejável quando inclui uma oração:

Duplicou o risco de morrer.
Duplicou o risco de que morra.
Duplicou o risco de o país ficar ingovernável.
*Duplicou o risco de estar morto.
*Duplicou o risco de o país ser ingovernável.
??Duplicou o risco de o país estar ingovernável.
Duplicou o risco de o país vir a estar ingovernável.
*Duplicou o risco de vivermos.

Se por outro lado o sintagma proposicional incluir não uma oração, mas um sintagma nominal, a leitura é aproximadamente equivalente a risco de X ocorrer, risco de passar a um estado de X, quando é possível.

Duplicou o risco de morte.
Duplicou o risco de ingovernabilidade.
*Duplicou o risco de feiúra.
*Duplicou o risco de indesejabilidade.

Existem contudo casos em que a ideia de futuro está mais esbatida, como risco de pobreza, risco de desemprego, estas expressões são antes índices, parafraseáveis por frequência de situações de pobreza/desemprego.

Depois, temos expressões como risco do novo empreendimento, risco de crédito. Embora ligeiramente diferentes, de introduz em ambas a fonte do risco — o risco de o novo empreendimento falhar, o risco de o crédito não ser pago.

Passemos então para risco de vida. Creio que a leitura mais fácil é ler risco de vida como risco para a vida, i.e., vida é a entidade ameaçada pelo risco, o tema do risco. Nos exemplos que o Jacinto dá, de pode ser substituído por para. Como neste caso já não estamos a falar da probabilidade de um dado evento futuro ocorrer, mas sim de uma ameaça para uma entidade:

Aumentou/Agravou-se o risco de vida.
*O risco de vida aumentou em 30%.
??O risco de vida duplicou.

Procurei outros exemplos modernos deste uso no CETEMPúblico e não encontrei nenhum. É possível que seja apenas um uso cristalizado de de, substituído hodiernamente por para.

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Todas as línguas têm suas expressões idiomáticas que não passariam em uma análise lógica ou semântica. Um bom exemplo disso é quando dizemos "pois não", em pt-BR, e isso significa um "sim". Conforme foi mencionado em um comentário, "risco de vida" pode ser explicado como "risco de perder a vida", "por a vida em risco". Mas mesmo que não tivesse uma explicação, o uso popular consagra qualquer expressão, faça ela sentido ou não. Em pt-BR, noventa e nove por cento da população usa ou está habituado ao termo "risco de vida". Porque então dizer "risco de morte"? Só para ser diferente?

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