Aparentemente, existiu algum uso da palavra presidenta no passado, e agora voltou a ocorrer devido a acontecimentos políticos. Nitidamente, o sufixo é independentemente de gênero, sendo que quem define o gênero é o artigo que o acompanha; por isso eu, particularmente, não vejo necessidade de se permitir o uso correto da escrita presidenta. Mas, no final das contas, o importante é que o significado seja passado corretamente, independentemente da forma.
A seguir estão disponíveis os resultados detalhados da pesquisa exploratória que realizei para utilizar como referência e insumo nesta análise.
Substantivo
pre.si.den.te, comum aos dois gêneros
Obs.: Também ocorre o feminino presidenta. [1] [2]
- Chefe de uma nação
- Pessoa que dirige os trabalhos duma entidade deliberativa
- cargo mais alto de uma empresa
[...]
Referências
- Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa: presidenta
- Houaiss, Antônio; Villar, Mauro de Salles. “presidente”. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. ISBN 85-7302-383-X
Comum de dois gêneros
Em gramática, o comum de dois gêneros é a classificação que
recebem os substantivos cujas formas masculina e feminina são
idênticas mas são diferenciáveis pela presença de um modificante, tal
como um artigo ou adjetivo.
Exemplos
- [...]
- O presidente - A presidente.
- [...]
Sufixo
-nte
- sufixo formador de adjetivos e substantivos
Que têm em comum palavras como “pedinte”, “agente”, “fluente”,
“gerente”, “caminhante”, “dirigente” etc.? Não é difícil, é? O ponto
em comum é a terminação “-nte”, de origem latina. Essa terminação
ocorre no particípio presente de verbos portugueses, italianos,
espanhóis…
Termos como “presidente”, “dirigente”, “gerente”, entre
inúmeros outros, são iguaizinhos nas três línguas, que, é sempre bom
lembrar, nasceram do mesmo ventre. E que noção indica a terminação
“-nte”? A de “agente”: gerente é quem gere, presidente é quem preside,
dirigente é quem dirige e assim por diante.
Normalmente essas palavras
têm forma fixa, isto é, são iguais para o masculino e para o feminino;
o que muda é o artigo (o/a gerente, o/a dirigente, o/a pagante, o/a
pedinte).
Em alguns (raros) casos, o uso fixa como alternativas as
formas exclusivamente femininas, em que o “e” final dá lugar a um “a”.
Um desses casos é o de “parenta”, forma exclusivamente feminina e não
obrigatória (pode-se dizer “minha parente” ou “minha parenta”, por
exemplo). Outro desses casos é justamente o de “presidenta”: pode-se
dizer “a presidente” ou “a presidenta”.
A esta altura alguém talvez já
esteja dizendo que, por ser a primeira presidente/a do Brasil, Dilma
Rousseff tem o direito de escolher. Sem dúvida nenhuma, ela tem esse e
outros direitos. Se ela disser que quer ser chamada de “presidenta”,
que seja feita a sua vontade -por que não?
Responder 'sim e não' à pergunta se a palavra 'PRESIDENTE' tem género
feminino [Revista 'MAIS' distribuída com o Diário de 8 de Março, pag.
14] justifica que, sobre a mesma, se acrescente um pouco mais.
Do
tempo em que eu andava na escola e, ainda que leigo na matéria, guardo
em memória 'coisas' de que hoje pouco se cuida, não sendo estranho o
facto de ter sido eliminado o latim que nesse tempo era uma disciplina
obrigatória e que bem útil era para melhor se entender a evolução da
língua de todos nós.
Ora 'PRESIDENTE', o que não tem muito que saber,
foi importado directamente do latim 'praesidente' - pessoa a quem cabe
uma chefia, ou seja, presidir, do latim 'praesidere'. Quer como
adjectivo quer como substantivo, em qualquer dos casos, é como se
designa 'comum de dois géneros', o que é corrente na formação de
palavras pela junção do sufixo 'nte' que, pode dizer-se, traduz a
ideia do agente. No caso presente, a partir de 'presidir' o agente é
pois o ou a Presidente. Analogamente, só para citar alguns: -
comandante, gerente, amante, estudante, mantêm a uniformidade para
masculino e feminino.
Curiosamente, vai fazer um ano escrevi,
comentando uma entrevista de Pilar del Rio, a jornalista espanhola
casada com José Saramago, a um diário da capital, quando ela se
insurgiu, arrogantemente, contra o entrevistador, classificando-o de
ignorante, por se referir a ela como Presidente e não Presidenta da
Fundação Saramago. Tratou-se de uma excentricidade que revela alguma
ignorância, o que se percebe e se lhe desculpa, por não saber que além
do mais, na língua portuguesa, os substantivos terminados em 'e', como
é o caso, são geralmente uniformes, conservando uma unidade formal
para os dois géneros.
Em conclusão, eu respondo 'NÃO' à pergunta -
'PRESIDENTE' continua a ser um substantivo comum de dois géneros.
Este é um trabalho realizado por Danielle Takase Queiroz, Mitchell Tranjan e Raphaela Piorino para a disciplina de Morfologia do Português, da Profa. Dra. Marilza de Oliveira, da Universidade de São Paulo.
Vale a pena a leitura para uma perspectiva ampla quanto à flexão ao gênero feminino na política!
Este é um vídeo que, apesar do teor humorístico, mostra de forma definitiva e clara o como e porquê desta questão. Eu, particularmente, concordo com a explicação da professora!
Vale a pena assistir. Além de aprender sobre a origem do sufixo, o desfecho é fantástico!