O Pretérito Perfeito Composto não tem necessariamente de exprimir iteração; dependendo das características aspetuais do predicado, pode ter um valor durativo (nomeadamente, se se tratar de um estado). Por exemplo:
Tem chovido [=tem estado a chover] a tarde inteira.
A diferença com choveu a tarde inteira é essencialmente que tem chovido só pode ser proferida se ainda for de tarde e ainda estiver a chover (portanto a ação tem de continuar até ao presente).
Mas passando à tua pergunta, quantas repetições são necessárias, a resposta é depende; podem ser só duas. Os únicos requerimentos são:
- Durante o tempo de tópico (que pode ser explicitamente delimitado com desde Janeiro, nos últimos dias, etc.), o período em que ação ocorreu tem de ser longo o suficiente, o número de repetições grande o suficiente e as repetições distribuídas pelo período de tempo bem o suficiente para que se possa estabelecer um padrão/hábito.
- O número de repetições não pode ser especificado: *Tenho-a visitado vinte vezes, mas é possível tenho-a visitado várias/muitas/poucas vezes e tenho-a visitado três vezes por semana (o que é iterado é visitar três vezes por semana).
Repara que o facto de haver um padrão não implica que ação seja frequente:
Tenho visitado os meus pais a cada três anos.
Quanto a tem chovido/choveu muito esta semana, é um mau exemplo — trata-se de frases ambíguas. Podemos estar a falar da frequência (= muitas vezes) ou da quantidade/intensidade (=muita chuva). Diria que a interpretação preferencial com tem chovido é de frequência, e com choveu de quantidade. Se for de quantidade para os dois casos, tem chovido tem um carácter mais iterativo. Qualquer que seja a interpretação, tem chovido só pode ser usado se estivermos algures no meio da semana e choveu só pode ser usado se estivermos no fim da semana ou já na semana seguinte (esta semana = esta última semana) — se estivermos a meio da semana só podemos usar choveu com algo do género já choveu muito esta semana.
Em suma, para o Pretérito Perfeito Composto é preciso que que haja um início indeterminado de um estado ou de uma série de eventos no passado que se mantenha até ao presente e que possa continuar depois deste. Já o Simples é «terminativo, isto é, marca um momento em que um estado ou um evento terminou, podendo só nos casos em que há culminação inferir-se um estado consequente» (Gramática do Português de Maria Mateus e outras, 6.ª ed., p. 156).