9

As regras de colocação pronominal no português formal são, eu diria, um tanto quanto complicadas. Existe alguma regra simples e/ou mnemônica que facilite a fixação de quando usar os três casos de colocação pronominal: próclise, mesóclise e ênclise?

Por exemplo, uma vez aprendi em um programa do professor Pasquale Cipro Neto uma regra simples sobre quando usar mal ou mau através da seguinte associação

mal - bem (as letras l em mal e e em bem vem antes das letras u em mau e o em bom)

mau - bom

Daí para sabermos se devemos usar mal ou mau basta trocarmos a ocorrência, na frase, por bem ou bom, e a partir do que fizer mais sentido recuperamos a frase através da relação anterior. Por exemplo:

Eu fui (mal ou mau?) no teste.

Eu fui bem no teste. Faz sentido

Eu fui bom no teste. Não faz sentido

Logo, o correto é usar mal.

O que eu procuro é alguma regra simples assim que se aplique no caso de colocação pronominal.

6
  • 1
    Enquanto que talvez gramaticalmente corretas, as frases dos exemplos soam erradas. Faria mais sentido Eu saí-me bem ou Eu fiz bem no teste. Commented Jul 16, 2015 at 21:13
  • Eu fui bem no teste e Eu fui bom no teste não faz muito sentido pelo menos em Portugal.
    – Jorge B.
    Commented Aug 4, 2015 at 9:26
  • @JorgeB. no Brasil o Eu fui bom no teste causa estranheza ao contrário de Eu fui bem no teste...
    – Larara
    Commented Aug 6, 2015 at 17:20
  • @Larara uma coisa é estranhesa outra é ser correto. Neste caso não sei se será correto.
    – Jorge B.
    Commented Aug 6, 2015 at 18:00
  • 1
    Mas de todas as sugestões, saí-me bem no teste do @someonewithpc é a que soa mais natural em Portugal. Fiz bem no teste parece-me errado. Fazer é transitivo: em Portugal perguntavam-te logo, fizeste bem o quê?
    – Jacinto
    Commented Aug 12, 2015 at 17:53

2 Answers 2

8

EDITADO de acordo com comentários abaixo acerca das diferenças entre o português brasileiro e de Portugal (ou europeu).


Português brasileiro

Próclise primeiro

Via de regra, dê prioridade à próclise:

Eu te avisei.

Eu não te falei.

Te avisei. (informal)

Depois a ênclise

Use a ênclise quando o pronome for a primeira palavra da oração1:

Avisei-te, mas em vão.

Estavas errado, falei-te.

1: No português brasileiro formal, é necessário usar a ênclise no início de orações.

Só então a mesóclise

Por fim, recorra à mesóclise apenas quando você precisar usar a ênclise em verbos conjugados nos tempos futuros (futuro do presente e futuro do pretérito):

Avisar-te-ei, quando necessário.

Falar-te-ia que estavas errado, mas não me deixaste.


Português europeu

Ênclise primeiro

Via de regra, dê prioridade à ênclise:

Eu avisei-te.

Falei-te daquilo.

Depois a próclise

Caso haja uma negação na oração, deve-se utilizar a próclise:

Eu não te avisei.

Não te falei daquilo.

Só então a mesóclise

Por fim, recorra à mesóclise apenas quando você precisar usar a ênclise em verbos conjugados no futuro do presente e no condicional:

Avisar-te-ei, quando necessário.

Falar-te-ia que estavas errado, mas não me deixaste.


Obs.: Coloquei o português brasileiro em primeiro lugar apenas porque me parece que a pergunta está mais próxima dessa variante.

Fonte

13
  • 3
    No português de Portugal (não sei porque usam "Europeu" se é só de Portugal) não usamos o "Eu te avisei".
    – Jorge B.
    Commented Aug 4, 2015 at 8:58
  • 1
    Usa-se "Eu avisei-te".
    – Jorge B.
    Commented Aug 4, 2015 at 9:03
  • 2
    @JorgeB. Em "eu não te falei", a negação exige a próclise. "Eu não falei-te" não é possível em nenhuma variação do português. De qualquer maneira, me parece que há uma predileção pela ênclise no português de Portugal. Devo editar a resposta para refletir essa diferença entre as variantes? Commented Aug 4, 2015 at 9:28
  • 2
    @BellAppLab, em Portugal diz-se eu avise-te, mas (praticamente) qualquer outra palavrinha que se meta naquela frase exige a próclise: eu não te avisei, eu já te avisei, eu até te avisei, quando é que eu te avisei? eu ainda te avisei, etc. etc. etc. Nas frase seguintes quer a próclise quer a ênclise me soam bem, mas não tenho a certeza do que diz a gramática: eu dei-me ao trabalho de te avisar, eu fiz tudo para te avisar, foi por eu te avisar que tu soubeste. É irrelevante se o verbo começa por vogal ou consoante.
    – Jacinto
    Commented Aug 12, 2015 at 18:22
  • 2
    Em Portugal diz-se "o meu trabalho é avisar-te", e os meus exemplos ficam na mesma se tirares o eu. Curiosamente a maneira como os portugueses falam obedece, com raras exceções, às regras definidas neste site brasileiro link.
    – Jacinto
    Commented Aug 15, 2015 at 13:37
3

Eu consegui da nossa complicação destilar uma regra relativamente simples. Mas só garanto a sua validade em frases com verbo simples; não se aplica tempos compostos ou locuções verbais como tenho dito, vou dizer, quero dizer; e mesmo assim há de certeza muitas exceções. Foi o que eu consegui arranjar.

Nota prévia: a mesóclise é um mero substituto da ênclise no caso do futuro do presente (ver-te-ei) e do futuro do pretérito/condicional (ver-te-ia).

Regra simples: a ênclise e mesóclise usam-se apenas em frases “básicas”; em todos os outros casos é obrigatória a próclise. Frase “básica” é a que começa com sujeito ou verbo; se tiver alguma palavra antes, ela está separada do sujeito ou verbo por pausa, como em (c):

(a) Eu ligo-te amanhã; eu ligar-te-ei amanhã.
(b) Ligo-te amanhã.
(c) Amanhã, ligo-te.

Se houver antes do sujeito ou verbo uma palavrinha qualquer diretamente ligada a eles, então só se usa a próclise:

(d) Já te ligo; já te ligarei.
(e) Eu não te liguei.
(f) Amanhã te ligo.

Agora, em Portugal é só isto. No Brasil, este uso da ênclise e mesóclise é considerado correto e pode ser até preferido na linguagem formal. Mas na linguagem coloquial é comum a próclise mesmo nas frases básicas. Começar a frase com o pronome átono (Te ligo amanhã), só mesmo no registo coloquial.

Mais exemplos de frases “não básicas”:

(g) Nunca te liguei.
(h) Eu mesmo te ligo.
(i) Eu até te liguei! Estás tu a dizer que eu me esqueci do teu aniversário!
(j) Por me lembrar é que te liguei.
(k) Eu sempre me lembrei; tu é que te esqueces sempre.
(l) Eu só te liguei (não fui bater à tua porta).
(m) Só eu te liguei; mais ninguém.
(n) Se te liguei, foi por engano e já me esqueci.
(o) Queres que te ligue?
(p) Quando te liguei, não atendeste.
(q) Toma, para te lembrares de mim.
(r) Estou onde nos conhecemos.
(s) Que bicho te mordeu?
(t) A possibilidade de eles te ligarem é remota.
(u) Talvez te ligue.
(v) Caso te liguem, atende.

E pronto regra simples é esta. Agora, há exceções. Por exemplo, alguns sujeitos pedem a próclise mesmo em frase “básicas”:

(w) Ninguém/alguém me ligou.
(x) Todos me ligaram.
(y) Nada te acontecerá.
(z) Algo me diz que há mais exceções.

Your Answer

By clicking “Post Your Answer”, you agree to our terms of service and acknowledge you have read our privacy policy.

Not the answer you're looking for? Browse other questions tagged or ask your own question.