Literalmente, «entre mortos e feridos, salvaram-se todos» não tem sentido. Trata-se na verdade de uma modificação brincalhona do ditado:
Entre mortos e feridos, alguém há de escapar.
Este compreende-se facilmente. Pelo que eu vi pela net, a variante brincalhona é usada, como seria de esperar, sempre jocosamente, e é aplicada a situações potencialmente perigosas ou em que alguém previa perigo, mas em que no fim tudo corre mais ou menos bem.
Por exemplo, neste artigo (2012) o 'ditado' refere-se a um debate entre candidatos a prefeito de Curitiba, em que todos os participantes se declararam vencedores. Neste outro artigo (2014) refere-se ao facto de, depois de previsões catastróficas, os jogos do Mundial de 2014 em Porto Alegre terem decorrido sem incidentes. Este outro caso (Rabecão capota: entre mortos e feridos salvaram-se todos!) até envolveu mortos: o rabecão transportava cadáveres, mas a tripulação sofreu apenas alguns ferimentos.
Diz a Wikipédia que foi Washington Rodrigues (1936-), jornalista desportivo, treinador de futebol e dirigente desportivo brasileiro, quem cunhou esta variante brincalhona. Mas não, ela já existia em 1906, vinte anos antes de Washington Rodrigues nascer (negrito meu):
A policia prohibiu a representação de tal drama historico, que transformou o Theatro Nacional em campo de batalha de dois partidos politicos encarniçadamente inimigos.
Entre mortos e feridos todos escaparam, como sempre se dá […]
Francisco Mascarenhas, Do Brazil ao Chile através dos Andes, 1906.
A versão original—entre mortos e feridos alguém há de escapar—já existia em 1878 (Manuel Pereira Lobato, Agua de Lourdes: comedia em um acto).