A expressão é cabo-verdiana, como já sabemos. Canhoto é em Cabo Verde um cachimbo: tem origem no português canudo, via crioulo guineense. As minhas fontes cabo-verdianas informam-me que pito é a parte amovível do cachimbo que vai à boca. Quando se sabe, até é fácil encontrar:
Nós dois muito camaradas, nhô Chic’Ana dentando o pito do cachimbo (Escritor cabo-verdiano Baltazar Lopes, Chiquinho, 1947.)
Ora estar como pito que nunca viu canhoto é estar excitadíssimo, deslumbrado, fascinado com uma novidade qualquer, como se vê nos exemplos abaixo. A expressão aprece com frequência na obra do escritor cabo-verdiano Germano Almeida:
(…) perfume que parece desprender-se de Júlia (…) é assim que parece a nhô Pepe que continua respirando-a extasiado, abrindo com despudor as narinas em direção a ela sem esconder quanto a essência que respira o excita física e mentalmente.
Júlia acabou por rir desse espalhafato num homem aparentemente tão sério, Bocê está como pito que nunca viu canhoto, disse (Germano Almeida, Do Monte Cara Vê-se o Mundo, 2014)
Neste outro romance, o Sr. Napumocemo, depois de uma vida a trabalhar, viaja pelo mundo, fica fascinado com maravilhas da técnica, como gravadores de mensagens, e volta a Cabo Verde:
(…) Carlos disse a Maria da Graça ter assistido de sorriso irónico a toda essa mudança no caráter do Sr. Napumocemo e acompanhado a instalação de todas essas bardamerdices. Nessa febre técnica [o Sr. Napumocemo] parecia um maluco fugido do manicómio, pito que nunca viu canhoto (Germano Almeida, O Testamento do Sr. Napumocemo da Silva Araújo, 1991)
Outros exemplos:
Aqui o que está em jogo é a descaracterização do centro histórico do Mindelo que está sempre no altar dos sacrifícios. É mais uma bomba nessa cidade. E como sempre os mindelenses conformam-se muito depressa e é por isso é que apanham sempre tareia. Ficaram todos maravilhados com o prédio que nada tem a ver com o espaço. É “pito que nunca viu canhoto” está dito. (Éden Park: o renascer da Fénix)
Tanta euforia de um lado e do outro, embora por motivos diversos, traz-me à lembrança aquela frase: "pito que nunca viu canhoto". Tenham calma. (Café Margoso)