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Acredito que, se correto, seu uso na língua falada seja muito raro. Além do mais, existem formas mais simples de se dizer o mesmo: "apresentaram-te a nós", "tu foste apresentada a nós", etc. Caso seja realmente gramatical, me parece um verbo muito sobrecarregado de pronomes oblíquos e soa muito estranho aos meus ouvidos. É correta essa formação?

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  • C'um caráter, eu diria que não, pela resposta do Artefacto a esta outra pergunta.
    – Jacinto
    Dec 5, 2015 at 16:41
  • @Jacinto O que seria "C'um caráter"? Confesso que não existe por aqui.
    – Centaurus
    Dec 5, 2015 at 17:08
  • É um expletivo (não acrescenta significado) eufemístico no meu idioleto. "C'um" é "com um".
    – Jacinto
    Dec 5, 2015 at 17:11
  • Correção abaixo de 6 caracteres: tu foste (ou vós fostes)
    – ANeves
    Dec 6, 2015 at 22:00

1 Answer 1

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Não. Como mencionei nestoutra resposta, não é possível usar simultaneamente dois clíticos que não têm formas distintas para o acusativo e para o dativo (i.e. clíticos da 1ª e 2ª pessoas).

Segundo a Gramática do Português da Gulbenkian (vol. II, p. 2236):

Os pronomes de primeira e segunda pessoa, que não apresentam formas morfofonologicamente distintas para o acusativo e o dativo, não podem formar entre si grupos clíticos. Por isso, a sua coocorrência numa mesma oração não é permitida. Assim, a partir de entreguei-me completamente a ti não é possível obter *entreguei-me-te completamente, com o clítico te (dativo) substituindo a forma pronominal forte ti, complemento da proposição a. O mesmo se pode dizer de *entregámo-nos-vos, a partir de entregámo-nos a vocês, e de outros casos semelhantes.

Se houver uma perífrase verbal, poderá ser possível fazer subir um dos clíticos e assim permitir a sua coexistência. Por exemplo:

Eles ainda nos hão de apresentar-te.

Esta impossibilidade parece não ter existido no passado. Diz Evanildo Bechara na sua gramática:

Nas demais combinações [de pronomes átonos], o português moderno prefere substituir o pronome átono objetivo indireto pela forma tônica equivalente, precedida da preposição a.

Enquanto dizemos hoje a mim te mostras ou te mostras a mim, a língua de outros tempos consentia em tais dizeres:

“Porque assi te me mostras odiosa?” [JCR.1 apud SS.1, § 271].

onde JCR.1 se refere a Naufrágio de Sepúlveda de Jeronymo Corte-Real (1598).

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  • 1
    Eles adiantam alguma razão para a impossibilidade? Por exemplo, não se saber qual é o acusativo e qual é dativo?
    – Jacinto
    Dec 6, 2015 at 19:35
  • @Jacinto Não. Essa é uma explicação possível, mas não cobre a impossibilidade de se-o (e.g. *mandou-se-o embora, só possível nalguns dialetos).
    – Artefacto
    Dec 6, 2015 at 20:17
  • Também não estava muito convencido dessa razão. Seria possível convencionar uma ordem. Lembrei-me que no inglês também se diz give me the book mas não *give me it. Poderá em ambos os casos uma questão de não soar bem.
    – Jacinto
    Dec 6, 2015 at 20:25
  • @Jacinto "give me it" está correto no inglês. Acho que a razão pode originar numa ordenantiga dos pronomes oblíquos. No espanhol por exemplo, seja a sua função, o te sempre vai antes do me : te me acerco e te me acercas. Se o verbo não é reflexivo há ambiguedade total. Então pode que no desenvolvido do português os falantes rechazassem a combinação. Mar 30, 2016 at 3:43
  • @guifa Sim, descobri aqui que give me it é comum nalguns dialetos. O Ngram mostra-o com um frequência de 1% de give it to me; na realidade é menos ainda, porque a maioria das ocorrências são falsos positivos (e.g. the gift he as kind to give me. It is...)
    – Jacinto
    Mar 30, 2016 at 8:53

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