Os brasileiros chamam trem ao que os portugueses chamam comboio. Mas já houve um tempo em que os dois nomes eram usados nos dois países (grafia original, ênfase minha):
Quem viaja a cavallo ou em carro de bois sente um alegrão doido quando vê na estrada, ao longe, outro cavalleiro ou quando ouve o rincho de outro carro de bois; e no trem? Se a gente vê vir, na mesma linha, outro comboio em sentido contrario, só tem uma coisa a fazer: é encomendar a alma ao Creador, porque está frito. (Escritor brasileiro Coelho Netto, ‘Um Simples’ in A Bico de Penna, 1904.)
De repente o comboio recomeçou a rolar, muito sereno. Em breve apareceram as luzinhas mortas duma estação abarracada. Um conductor, com o casacão de oleado todo a escorrer, trepou ao salão:―e por elle soubemos, emquanto carimbava apressadamente os bilhetes, que o trem, muito atrazado, talvez não alcançasse em Medina o comboio de Salamanca! (Escritor português Eça de Queiroz, A Cidade e as Serras, 1901.)
Entretanto em Portugal o trem extinguiu-se, e no Brasil o comboio tornou-se uma espécie rara que apenas sobrevive nalguns documentos técnicos. Como e quando é que isto aconteceu?