Quando é que "e" se pronuncia /ɐj/? Por exemplo, nas seguintes palavras:
- sexto (contrasta com "cesto")
- telha (mas não "velha", que parece ser uma exceção)
- tem (aqui nasalizado)
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Sign up to join this communityQuando é que "e" se pronuncia /ɐj/? Por exemplo, nas seguintes palavras:
O em nasal no fim de palavra ou seguido de hífen — como em bem, bem-amado, tem, nascem — é o mais fácil. Para a maioria dos falantes em Portugal é um ditongo, /ɐ̃j/, que rima com mãe; mas para alguns, que eu ouço aqui em Setúbal e segundo o Artefacto também ocorre no Algarve, é um e nasal,/ẽ/, mas o que eu ouço é um pouco mais longo que o en de dente, por exemplo. No Brasil também é ditongo, mas parece-me que não rima bem com mãe: diria que é mais /ẽj/, apesar de este ditongo não figurar neste artigo da Wikipédia sobre fonologia portuguguesa. Comparem a pronuncia de bem e mãe no Brasil e em Portugal (nestes links como em todos os que se seguem, pode-se ouvir a palavra indicada a ser pronunciada por portugueses, brasileiros ou ambos).
Parece que todos os falantes do português pronunciam o e como /ɐj/ em ex-qualquer coisa:
Creio que em Portugal, /ɐj/ é também a pronúncia universal de e em sexta, texto, contexto, pretexto, êxtase e derivados. E já sabemos, vejam o comentário do Arthur à pergunta e ouçam um brasileiro a pronunciar sexta no link acima, que no Rio também há quem pronuncie sexta assim. Não sei se existem mais palavras com este padrão, isto é ex tónico seguido de consoante.
Os restantes casos de e pronunciado /ɐj/ parecem-me ser um fenómeno exclusivo do português europeu e possivelmente africano.
Quando a palavra começa por ex + consoante (a consoante é sempre surda) em que ex não é tónico, como em exclusão, exposição, existem em Portugal as pronúncias /ɐjʃ/, /ɨʃ/ e simplesmente /ʃ/, com preferência, diria eu, para as duas últimas. Parece-me que no Brasil é sempre /eʃ/ (especialmente no Rio) ou /es/.
Nos restantes casos é geralmente o /e/ tónico (como em ser) que é ditonguizado para /ɐj/ ou passa simplesmente a /ɐ/ nos conjuntos ech, ej, elh e enh. O e aberto, /ɛ/ (flecha) normalmente não é ditonguisado. O e fechado é ditonguisado por muitos falantes nos conjuntos ech, ej, como em fecho (substantivo), azulejo. É possível que seja ditonguisado por algumas pessoas também em mexo, mexas. Mas nada disto é universal: muita gente pronuncia /e/.
Nos conjuntos elh, como telha, coelho, fedelho, pingarelho parece-me que a ditonguisação é mais ligeira ou inexistente. E novamente muita gente diz /e/:
/’oɾɐ(j)ʎɐ/, /’oɾɐʎɐ/ ou /’oɾeʎɐ/; /’kwɐʎu/, /’kwɐ(j)ʎu/ ou /’kweʎu/.
Há aqui pelo menos uma exceção ao e aberto permanecer aberto. Grelha é pronunciado por algumas pessoas como /’gɾɐ(j)ʎɐ/, por outros como /’gɾɛʎɐ/. Mas realmente creio que toda a gente diz /’vɛʎɐ/ e não /’vɐ(j)ʎɐ/. Não me lembro de mais palavras com e aberto em elh.
Finalmente, em o e tónico em enh, como em tenho, cenho, desenho. Creio que quase toda a gente pronuncia o e como /ɐ/. Alguma ditonguisação que haja é muito ligeira. Creio que pouca gente pronuncia este e como /e/. Possivelmente pronunciam-no como /e/ os mesmos que pronunciam em como /ẽ/.
O mapa abaixo é baseado em Lindley Cintra, “Nova Proposta de Classificação dos Dialectos Galego-Portugueses”, Boletim de Filologia, 1971 (p. 16) (disponível no Instituto Camões)
Além disso, as fronteiras na pronúncia do e em palavras como tenho, espelho, desejo e o fecho não tem que coincidir. Eu sou um exemplo disso. Eu cresci na zona de Torres Vedras, a uns 50 km a norte de Lisboa, que pelos vistos fica na zona creme, pois o pessoal mais velho lá pronunciava peixe como /’peʃɨ/, queijo como /’keʒu/, e o sufixo eiro era sempre pronunciado como /eɾu/: carneiro era /kɐɾ’neɾu/, padeira era /pa’deɾɐ/. Ora, eu pronuncio o ditongo neste tipo de palavras, mas tendo a manter o e como /e/ em palavras como espelho, desejo e o fecho; mas pronuncio o e como /ɐ/ em tenho, lenha, senha, etc.
É possível que seja ditonguisado por algumas pessoas também em mexo, mexas.
- confere.
Na pronuncia padrão o /e/ (E fechado) pronuncia-se como /ɐj/ (ditongo EI) antes de sons palatais, bem como a sua versão nasal, /ɐ̃j/, em final de palavra. Ou seja nas seguintes situações:
Portanto note-se que quando seguido de de I, NH ou LH o ditongo perde a semivogal /j/ e passa a um simples /ɐ/.
Além disso este fenomeno apenas afeta o E fechado, o E aberto mantém-se, por exemplo velho mantém-se /vɛʎu/.
Basicamente isto deriva de uma tendencia de dissimilação, em que sons proximos se afastaram. Este fenomeno não ocorre em todos os sotaques. Por exemplo em Coimbra não ocorre no caso do LH, e noutras regiões não acontece de todo.