Estou estudando por conta própria e sempre vejo a definição de fonema como "a menor unidade sonora distintiva". Por que não única? Se ao trocar um fonema gera distinção entre as palavras, deve-se à unicidade do fonema trocado, certo?
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4Não sei se isto responderá à tua questão, mas lá vai. Dirias também que a sílaba é única? Se eu pegar em gato e trocar ro por ga gera outra palavra distinta: roto. Mas a sílaba não é a menor unidade. Se eu trocar só o r, que é uma unidade menor que a sílaba, por g também gero uma palavra distinta: rato. Portanto, ser único não chega para definir um fonema. Eu achei as respostas a esta pergunta, em especial a do evpok, muito úteis para perceber o que é um fonema.– JacintoOct 18, 2015 at 16:18
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@Anderson: Vejo que és novo no site. Boas vindas (ainda que atrasadas). Não sei se o meu comentário acima respondeu à tua dúvida? Se quiseres deixar feedback, é só clicar no "Add comment abaixo" e dizeres de tua justiça.– JacintoOct 18, 2015 at 17:31
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@Jacinto, obrigado pela resposta. Ajudou a me direcionar para a solução. Sim, sou novo aqui, conheci esse site hoje. Não sabia que havia uma parte dedicada somente para linguística. Caso tenha postado na parte errada, desculpe. E sim, seu comentário foi útil e do evpok também. Se eu entendi correto, basicamente não podemos considerar única pois existem variações na pronúncia que representam o mesmo fonema (como ele usou no exemplo do ring). Obrigado pela ajuda! :)– AnderberserkOct 18, 2015 at 17:58
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@Anderbeserk A pergunta é perfeitamente apropriada para o SE.Portuguese Language. O que não te impede de a colocar no Linguistics também (mas é melhor antes ver se já lá há perguntas semelhantes com respostas que te satisfaçam), Eu não conheço o Linguistics. Fui lá parar através desta pergunta.– JacintoOct 18, 2015 at 18:16
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1@Jacinto Desculpa a demora, vi e ficou bem melhor assim. A forma antiga não estava muito clara.– AnderberserkNov 29, 2015 at 21:18
1 Answer
O fonema é a menor unidade sonora distintiva. Esta definição envolve uma porção de coisas. Portanto vamos por partes.
Primeiro, um fonema é uma unidade sonora e não uma letra. Por exemplo a letra o corresponde ao fonema /ɔ/ em foca e ao fonema /u/ em comer. O fonema /u/ é realizado pela letra o em comer e pela letra u em fruta. O x é uma letra de uma promiscuidade atroz: realiza o fonema /ʃ/ em baixo, /s/ em máximo, /z/ em exato e os dois fonemas /ks/ juntos em fixo. O fonema /s/ não lhe fica atrás: é realizado pela letra s em cansado por um s duplo em massa, por x em máximo e por ç em caça.
Segundo, qualquer fonema é distinto de todos os outros. Portanto se numa palavra substituirmos um fonema por outro, obteremos uma palavra diferente da primeira. Por exemplo, a palavra gato é constituída por quatro fonemas: /g/, /a/, /t/ e /u/. Se substituirmos o fonema /g/ pelo fonema /p/ obtemos uma palavra diferente: /patu/, escrita pato.
Então porque não dizemos pura e simplesmente que o fonema é um som único? Porque não é. Vejamos o exemplo da palavra gago. No português brasileiro ambos os guês têm o mesmo som: [g]. Mas no português europeu têm sons diferentes: o primeiro é igual ao do Brasil, mas o segundo é mais suave, representando-se por [ɣ]. Cada um destes sons, [g] e [ɣ], é único. A sons únicos chamamos fones (e representamo-los entre parenteses retos, [ ], enquanto os fonemas são representados entre barras, //).
Ora o que acontece é que o falante nativo do português, a menos que esteja muito atento a estes fenómeno, nem sequer se apercebe da diferença entre [g] e [ɣ]. Ou seja, estes dois fones não são distintivos: se numa palavra substituirmos o fone [g] pelo [ɣ] ou vice-versa, continuamos a ter a mesma palavra. Por isso estes dois fones fazem parte do mesmo fonema, que representamos por /g/. Aos fones que fazem parte de um mesmo fonema chamamos alofones. Portanto um fonema pode não corresponder a um fone único, tal como o /g/ que compreende dois alofones.
No português brasileiro um fonema que compreende vários alofones é o /ʀ/, como em melro, que tem sons ligeiramente diferentes consoante a região do país. Mas passa-se o mesmo que como o /g/ e o [ɣ]: se numa palavra, apenas se substituir um dos alofones do /ʀ/ por outro alofone do /ʀ/, o falante nativo do português, mesmo que note alguma diferença vai continuar a entender a mesma palavra.
Por isso, os fones são unidades sonoras únicas e menores que o fonema (porque alguns fonemas incluem vários fones). Mas os fones de um mesmo fonema não são distintivos. Logo o fonema é a menor unidade sonora distintiva. Se dois ou mais fones fazem parte do mesmo fonema ou de fonemas diferentes pode variar língua para língua. Por exemplo, os sons [t] como em gato e [d] como em gado são distintos no português, logo correspondem a fonemas diferentes: /t/ e /d/. Mas aos ouvidos dos coreanos estes sons são iguais, na língua coreana são alofones do mesmo fonema. Existe uma palavra coreana com o som [tada]: portugueses e brasileiros distinguiriam os dois sons consoantes, mas os coreanos não os distinguem.
Isto foi apenas a introdução ao fonema que eu fui capaz de fazer. Mas isto é um mundo. Quem quiser aprofundar, possíveis pontos de partidas poderão ser os artigos na Wikipédia sobre o fonema ou sobre fonologia da língua portuguesa.