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Tenho visto que em Portugal usamos muito o "eu vou comer" ou "eu vou fazer", por exemplo:

Sexta-feira eu vou fazer um bolo.

Mas já reparei que nos outros países usa-se o futuro "comerei" ou "farei", por exemplo:

Sexta-feira eu farei um bolo.

São as duas formas corretas? Porquê?

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  • 3
    No Brasil não se usa o futuro sintético ("farei") a não ser em situações muito formais. Ou, é claro, jocosamente. Commented Nov 20, 2016 at 17:10
  • Por curiosidade, em que outros países você reparou que se usa o futuro sintético?
    – erickrf
    Commented Dec 12, 2016 at 18:16
  • @erickrf São Tomé e Príncipe
    – Jorge B.
    Commented Dec 12, 2016 at 19:02
  • 5
    @LuísHenrique: Você generalizou demais. Usa-se sim, e não de forma jocosa, porém predomina o uso da forma composta, principalmente no uso coloquial.
    – Luciano
    Commented Aug 7, 2017 at 14:16

5 Answers 5

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Ambas são corretas. Na primeira forma é utilizado um verbo composto, formado pelos verbos ir e comer, no presente e no infinitivo, respetivamente; na segunda forma, é usado o verbo fazer no futuro. As duas frases são equivalentes, mas, para mim, a segunda parece dar a ideia de um futuro mais distante: Farei eventualmente um bolo.

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  • E o verbo composto é indicação de futuro?
    – Jorge B.
    Commented Jul 15, 2015 at 9:38
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    De um futuro próximo, sim. Commented Jul 15, 2015 at 9:39
  • O que é um verbo composto? O vou é presente de ir, seguido do infinitivo de fazer.
    – Lambie
    Commented Nov 15, 2019 at 22:04
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Ambas estão corretas. Existem 4 maneiras distintas de se expressar o futuro do presente em português:

1) ir + Infinitivo

Vou fazer um bolo.

Ele vai viajar para a Europa.

Nós vamos encontrar uma solução.

2) haver + de + Infinitivo

Eu hei de me casar com ela.

Ele há de estar certo.

Todos nós havemos de morrer um dia.

3) futuro do presente

Farei um bolo.

Ele viajará para a Europa.

Nós encontraremos uma solução.

4) verbo no presente + algum adjunto adverbial de tempo que indique o futuro

Amanhã/ no fim de semana/ na semana que vem eu faço um bolo.

Mês que vem/ em dezembro viajo para a Europa.

Em alguns dias/ em breve/ logo encontramos uma solução.

Observações:

I) Ao menos no que se refere ao português falado no Brasil, as opções 1 e 4 são certamente as mais usadas.

II) Nem sempre é clara uma diferença semântica entre as opções 1, 3 e 4. Mas muitas vezes sentimos que as construções 1 e 4 são sinônimas e intercambiáveis e indicam um futuro mais próximo, certo e concreto, enquanto a opção 3 tende a sugerir algo um pouco mais distante, incerto e abstrato.

III) A construção 2 é bem mais rara e, ao menos no Brasil, dificilmente será usada oralmente. Além disso, ela pode indicar um forte desejo ou propósito (2.1), uma razoável probabilidade (2.2) ou uma certeza inexorável (2.3). Observe-se que nem sempre é clara essa distinção, de modo que a frase 2.2 "Ele há de estar certo" tanto pode ser lida sob a chave de uma forte probabilidade, como sendo equivalente a "é bem provável que ele esteja certo" como também sob a chave da situação 2.1, como equivalente a "Tomara que ele esteja certo".

IV) As desinências de conjugação do futuro do presente (3) são etimologicamente derivadas da própria conjugação do verbo "haver" (no presente) como auxiliar de futuro (2). Assim:

eu hei de comprar um carro novo ---> eu comprarei um carro novo

tu hás ---> tu comprarás

ele ---> ele comprará

nós havemos ---> nós compraremos

vós haveis ---> vós comprareis

eles hão ---> eles comprarão

2

Ambas estão sintaticamente corretas.

Todavia em Português, como noutras línguas neo-latinas, temos uma riqueza combinatória considerável nos diversos tempos e formas verbais, ora vede. Assim sendo, use-as, encurtece os registos escrito e oral, e revela erudição.

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Sim, a construção "ir + Infinitivo" como tempo futuro é correta e presente em obras de referência já há algum tempo, como outras respostas já colocam. Mas também é verdade que ainda existe resistência ao seu uso por parte de alguns gramáticos e falantes — e a perspectiva histórica ajuda a entender o porquê:

Já em 1822, Barbosa registrava em sua Grammatica philosophica da lingua portugueza (pg. 197) o verbo "ir" como auxiliar (negrito meu):

Taes são os nossos tres verbos [auxiliares] de movimento Andar, Vir, e Hir, que junctos com os infinitos, e participios de outros verbos deste modo: Ando ou Vou escrevendo, Venho de escrever, Vou escrever; o primeiro exprime hum movimento reiterado e frequente da acção, e corresponde aos verbos frequentativos Latinos; o segundo hum preterito proximo; e o terceiro hum futuro proximo, correspondentes aos aoristos e futuros proximos dos Gregos.

Contudo, "ir" foi por muito tempo, em conjunção com outros verbos, usado majoritariamente ainda em seu sentido pleno (= "lexical"), i.e., com sentido de movimento — em oposição a construções em que ele é "esvaziado semanticamente" e adquire um caráter apenas auxiliar (= "gramatical"). Como Lara coloca em sua dissertação:

não podemos esquecer que, no século XIV, verbos que hoje em dia compõem perífrases tinham apenas sentido pleno. Ao se dizer, por exemplo, O rei vai a lutar em Castela, o verbo ir tinha sentido de locomoção, de deslocamento no espaço.

E, embora existam exemplos antigos do "ir" auxiliar (Gonçalves, Strogenski, et al):

  • "e vai lavar camisas" — Cantigas de amigo de D. Dinis, século XIII
  • "per que se uay hindo [=vai indo] de mal e pior" — Orto do Esposo, séc. XIV
  • "[o homem] sempre vai buscar a terra" — Sermão da Sexagésima, Pe. Antônio Vieira, séc. XVII
  • "Agora é que ele vai namorar deveras" — Dom Casmurro, Machado de Assis, séc. XIX

o "ir" ao menos parcialmente lexical se mantém dominante até o século XIX, como exemplificado por uma análise de peças teatrais brasileiras, que mostra que o futuro auxiliado pelo "ir" suplantaria o futuro simples apenas no século XX. Essa tendência, contudo, se acelera no século XXI e é particularmente notável no português falado contemporâneo, com uma análise (tab. 10) de registros orais recentes revelando seu uso em 98%(!) das ocorrências de futuro.

Ou seja, o processo pelo qual "ir" adquiriu seu sentido de auxiliar de futuro foi gradual mas, crucialmente, sua adoção vem se acelerando nas últimas décadas, explicando em parte a resistência que ainda existe à forma.

Outras razões prováveis para a resistência incluem o preconceito de classe (Lara, pg. 28) e o ensino limitado das escolas brasileiras, como lembra o professor Pasquale Cipro Neto:

[o que muitas vezes se aprende na escola] não deixa de ser verdadeiro, mas é apenas parte da história.

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  • Pasquale também lembra da forma "ir (futuro) + infinitivo": Formas como "irá fazer", "irá julgar" e semelhantes causam alguma discussão. A maioria dos gramáticos as condena ou não as inclui entre as que podem substituir a forma simples do futuro, mas há quem recolha importantes registros delas. Em seu "Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa", o professor Domingos Paschoal Cegalla considera equivalentes construções como "vai faltar luz", "irá faltar luz" e "faltará luz".
    – stafusa
    Commented Mar 18, 2022 at 21:34
  • O conteúdo lexical do ir "auxiliar", ainda se nota, pelo menos em Portugal, em coisas como "vou ler para o jardim" (a menos que penses que o jardim te ouve; vê esta pergunta).
    – Jacinto
    Commented Mar 19, 2022 at 18:07
  • Esses 98% são só versus futuro simples? Se for, não me surpreende nada. Porque se incluirmos o presente com sentido de futuro ("Chego de hoje a uma semana"), deve ser bem menos que 98% (vê estoutra).
    – Jacinto
    Commented Mar 19, 2022 at 18:07
  • @Jacinto Que interessante esse "vou ler para o jardim", gostei, mas é algo que não se diria em pt-BR. Acho que do conteúdo lexical, ao menos subconscientemente, frequentemente permanece ao menos um resquício; às vezes só a entonação ou contexto para distinguir um "vou falar com ele" de um "vou [lá] falar com ele". Sobre os 98%, sim, é vs. o futuro simples, e compartilho de tua impressão.
    – stafusa
    Commented Mar 19, 2022 at 18:35
  • Uma dissertação de mestrado para provar que a resistência se dá por "preconceito de classe"...
    – Quaestoria
    Commented Jun 3 at 23:00
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Eu não vejo nenhum livro mostrando os pronomes pessoais conjugando o futuro com auxiliar. Ex:

Eu vou fazer Tu vais fazer Ele vai fazer...

Acredito ser uso natural oral, mas que deva ser evitado na escrita formal, principalmente em livros, artigos, matérias jornalísticas...

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    Boas-vindas, Marcelo. Você consultou de fato alguns livros, ou está apenas confiando na memória? É verdade que alguns gramáticos não recomendam, mas uma busca cursiva revela que já há décadas há livros que listam essa construção, por exemplo: "Celso Cunha em sua Nova Gramática do Português Contemporâneo (1985), a locução formada pelo presente do indicativo do verbo IR + o infinitivo do verbo principal é usada para “indicar uma ação futura imediata” ou “a certeza de que ela será realizada em futuro próximo”.''.
    – stafusa
    Commented Mar 18, 2022 at 12:12

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