Há uma regra na gramática normativa que pede a não contração do sujeito dos verbos no infinitivo com preposições, entretanto esta regra não é rígida. Gramáticos como Evanildo Bechara, Rocha Lima e Adriano da Gama Kury não desaprovam a contração do sujeito de verbo no infinitivo + preposições.
O professor Rocha Lima afirma, na Gramática normativa da língua portuguesa (2011, p. 366), que o reger de preposição o sujeito (oração subordinada substantiva subjetiva) vem dos tempos mais antigos do idioma, embora contrarie a gramática ortodoxa.
A base para esta afirmação é um trecho da obra O livro de Esopo: fabulario português medieval, descoberto e publicado em 1906:
“A mym praz mais de comer trijguo... que gallinhas.”
De acordo com a Moderna Gramática Portuguesa (2012, p. 459), "a possibilidade de se pôr o sujeito de infinitivo antes ou depois desta forma verbal nos permite dizer":
Está na hora de beber a onça água (posição rara)
Está na hora de a onça beber água (posição frequente)
Está na hora da onça beber água (posição mais frequente)
No último exemplo, temos os vocábulos de (preposição) e o a (artigo) que, na língua falada, são comumente contraídos, seja por hábito ou eufonia, formando a expressão da. Por isso, segundo o gramático, essa construção "não tem repugnado os ouvidos dos que melhor conhecem e escrevem a língua portuguesa" e, portanto, haveria nenhum problema com a contração.
Para o professor Cláudio Moreno, na escrita temos a liberdade de escrever com, ou sem, a contração, porém — na fala — a contração é obrigatória. Segundo o professor, "Infelizmente, a regrinha [da não contração] já está tão arraigada nos manuais de redação da imprensa brasileira que será impossível eliminar o seu emprego"
No Brasil, os atos oficiais e de processo legislativo da Presidência da República Federativa do Brasil utilizam o Manual de Redação da Presidência da República como diretriz na construção da literatura redacional. Este manual segue a regra utilizada pela gramática normativa, ou seja, devem ser evitadas construções com o sujeito preposicionado.
Errado: É tempo do Congresso votar a emenda.
Certo: É tempo de o Congresso votar a emenda.
Errado: Apesar da Assessoria ter informado em tempo, (...).
Certo: Apesar de a Assessoria ter informado em tempo, (...)
NETO (2003) explica construções como “de o” e “de ele” da seguinte forma:
Pense na seguinte frase: “No caso de se alterar o cenário...” Qual é o sujeito do infinitivo “alterar”? Só pode ser o que se altera, ou seja, “o cenário”. Você percebeu que esse sujeito apareceu depois do verbo. Percebeu também que estão presentes as palavras “de” e “o”, separadas: “No caso de se alterar o cenário...”. Na frase em questão, o sujeito é posposto, isto é, vem depois do verbo. E se fosse anteposto? Seria possível pura e simplesmente alterar a ordem das palavras: “No caso de o cenário se alterar”. A forma “de o” se explica
pelo fato de a preposição não fazer parte do sujeito. (NETO, 2003, p.70)
Numa análise¹ feita no artigo Sujeito Preposicionado em Orações Reduzidas de Infinitivo: Descrição e Prescrição, registrou-se um total de 199 ocorrências de Sujeito preposicionado em orações reduzidas de infinitivo em teses e dissertações nas áreas de Exatas e Humanas, assim distribuídas:
┌────────┬────────────┬─────────────┐
│ Norma │ Ocorrência │ Porcentagem │
├────────┼────────────┼─────────────┤
│ Padrão │ 138 │ 69,3% │
├────────┼────────────┼─────────────┤
│ Culta │ 61 │ 30,7% │
├────────┼────────────┼─────────────┤
│ Total │ 199 │ 100% │
└────────┴────────────┴─────────────┘
Por conseguinte, para a grande maioria dos gramáticos, professores e graduados — sob monitoramento, ambas frases estão corretas; No entanto, se tu fores prestar concurso público ou redigir um ato do poder público, não deverás utilizar a contração entre preposição e sujeito de verbo no infinitivo.
Referências
REPÚBLICA, Presidência da. Manual de Redação da Presidência da República. [S. l.], 27
dez. 2018. Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-deredacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdf. Acesso em: 14 mar. 2019.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. [S. l.]: Lucerna, 2003. 671 p.
ISBN 9788521023180.
LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 49. ed. rev. [S. l.]: José Olympio,
2011. 659 p. ISBN 9788503010221.
O RATO da cidade e o da aldeia. In: O LIVRO de Esopo. Revista Lusitana: [s. n.], 1906. Disponível em: https://pt.wikisource.org/wiki/O_Livro_de_Esopo/O_rato_da_cidade_e_o_da_aldeia. Acesso em: 14 mar. 2019.
NETO, Pasquale Cipro. Está na hora de a (da) onça beber água. [S. l.], 24 nov. 2011.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2411200503.htm. Acesso em: 14
mar. 2019.
NOGUEIRA, Sérgio. DELE ou DE ELE?. In: NOGUEIRA, Sérgio. Temas polêmicos. [S. l.], 20
out. 2010. Disponível em: http://g1.globo.com/educacao/blog/dicas-de-portugues/post/temaspolemicos-6.html. Acesso em: 14 mar. 2019.
ANJOS, Marcelo Alessandro Limeira dos; REIS, M. E. C. ; OLIVEIRA, M. S. . Sujeito preposicionado em orações reduzidas de infinitivo: descrição e prescrição. Web-Revista SOCIODIALETO, v. 4, p. 525, 2014.
NETO, Pasquale Cipro. Nossa língua em letra e música. São Paulo: Publifolha, 2003
¹ Análise feita pelo professor Dr. Marcelo Alessandro Limeira dos Anjos; pelas Mestra em Letras Meryane Sousa Oliveira e Graduada Maria Eduarda Carvalho dos Reis