Ao escrever um texto, é muito comum utilizarmos um paralelismo nos pronomes. Ou seja, se tratarmos — com o pronome tu — determinada pessoa, então é comum que utilizemos os pronomes: te, ti, teu(s) e tua(s). Por exemplo:
Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.
Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres! (...)
— Florbela Espanca
Como podem observar, toda vez que Florbela refere-se a alguém, ela usa um paralelismo, sempre usa o pronome tu. Porém, num poema de Machado¹, podemos ler uma mistura entre os pronomes da segunda e terceira pessoa.
Por que sinto falta de você? Por que está saudade?
Eu não t̲e̲ vejo mas imagino suas expressões, sua voz t̲e̲u̲ cheiro.
Sua amizade me faz sonhar com um carinho,
Um caminhar, a luz da lua, a beira-mar.
Saudade este sentimento de vazio que me tira o sono,
me fazendo sentir num triste abandono, é amizade eu sei, será amor talvez...
Só não quero perder sua amizade, esta amizade...
Que me fortalece me enobrece por ter você.
— Machado¹
Seguem minhas dúvidas:
1) Visto que a norma culta proíbe essas variações, podemos concluir que o autor do poema utilizou a licença poética?
2) Os pronomes te, teu, sua e você, no poema, referem-se à mesma pessoa?
Nota 1: Há pessoas que afirmam que o poema Saudade é de Machado de Assis (1839 — 1908); outros, porém, dizem ser de Alcântara Machado (1901 — 1935).